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Ele se chamava Daniel

Ele se chamava Daniel. Logo que nasceu, sua mãe trocou de alma com ele, deixando um marido e mais dois filhos. Seu pai era militar, tinha nome de militar, José era o nome dele. Os irmãos Antonio e Miguel eram um caso à parte. Tinham um sobrenome tipicamente brasileiro, da Silva. Viveu durante nove anos num regime militar, logicamente dentro de um quartel. Exatamente no seu aniversário de nove anos seu pai resolveu se aposentar e se mudar. E foi ali, numa vila tradicional de São Paulo, que ele viu aquilo pela primeira vez; ele já tinha visto fuzis, revólveres, metralhadoras, bazucas, mas aquilo nunca.
“Tinha formato humano, mas em miniatura, algumas lãs pareciam formar uma espécie de cabelo, aquilo que talvez fossem os olhos eu conhecia, botões de camisa, estampava um sorriso magnético com buchechas rosadas, usava uns trapos como vestimenta, aquilo eu já tinha visto, as filhas dos generais usavam aquilo, pra ser sincero os trapos e os vestidos eram bem parecidos”.
Era uma boneca, algo comum, mas que não fazia parte da sua realidade. Talvez por isso lhe chamou tanta atenção. Curioso como sempre, nem esperou pra pegar aquilo. Naqueles nove anos ele imaginava que tinha sido a pior idéia que ele já teve na vida.
“Uma semana depois da boneca, meu corpo ainda doía, eu ainda tinha marcas no meu corpo, mas papai sabia muito bem como deixar marcas sem que os outros vissem. Diria mais, aqueles olhos sem brilhos… o que ele fez comigo não deve ter sido nem um terço do que ele era capaz, por isso no fundo eu me sinto grato ao papai”.
José já era capitão há muito tempo, Miguel e Antonio pareciam idolatrar a carreira militar do pai. Miguel tinha dezessete, estava prestes e ansioso para entrar no exército, Antonio tinha catorze, capitão de tiro ao alvo júnior e o melhor no “polícia e ladrão”. Ele, Daniel, com os seus nove anos, sabia atirar e carregar uma arma tão rápido quanto Miguel e corria como o vento. Esses foram os brinquedos desses irmãos. Essa foi a infância deles. Moravam numa pequena vila no bairro da penha em São Paulo.
* “Ele se chamava Daniel” – Post Esbolço – Texto de Leco Vilela.

7 Comments

  1. gostei! e o melhor, dá pra desenvolver uma baita história!
    =D

  2. nossa, muito legal!

    dá mesmo, pra desenvolver bastante…

    agradecer pelas poucas marcas foi foda, senti daqui…

    😉

  3. Está ficando muito bom Leco! Quando terminar tudo quero ler. 🙂

  4. ainda nao li o TODO, essa semana devo pegar pra ler, tá!?

    sobre trilhas novas, to separando material prum set chamado LO-FI(ne);

    deve ficar bem interessante,
    lento e sujo…

    🙂

    otima semana, Leléco!

    xx oo xx oo

    P

  5. to BEM feliz.

    te conto tudo depois

    xx oo xx oo

    😉

  6. Nussa, cara desse jeito vou acabar mesmo virando seu fã! Posso imaginar a história que vai se desenrolrar!

    bola pra frente garoto! o/

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