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Nome da Coisa Posts

Caminho sem rota

Particularmente eu sou daqueles que acredita em outras vidas. No renascer das almas em novos tempos… E sim, eu sei o quão irracional isso parece, mas pensar assim me âncora e reduz a pulsação violenta do meu peito já pesado pela vida. 

Admito também que, ao mesmo tempo, eu sinto que a vida é uma só e tão logo penso, percebo o quão contraditório isso é, mas minha intuição consegue ver sentido em coisas que fogem da razão, como não acreditar nela?

Dessa confusão etérea é que eu tiro a ideia de viver como se fosse uma única vez, mas esperando no fundo a possibilidade de voltar em uma nova era, uma outra chance de viver de novo. 

Essa lógica, mesmo sem sentido concreto, me leva pra mesma conclusão quando penso sobre outros cantos da minha vida. Como o amor que é construído tal qual a sobriedade, ama-se sabendo que você só tem o hoje, mas acreditando na sua improvável longevidade.

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Armadilha

Recentemente me dei conta de que tenho contado para as pessoas como a minha vida profissional me obriga a ser ríspido com homens héteros que menosprezam a minha carreira ou tentam me diminuir no ambiente corporativo. Percebi como revivo o ódio e a raiva ao narrar como respondi para esses homens. A ideia de que eu estava colocando eles no lugar, sem me dar conta de que eles estavam me colocando no lugar de macho agressivo, não só me tirando do meu centro, mas me jogando no meio do vórtex da masculinidade tóxica.

Não se engane, eu sempre fui estourado, pavio curto, ou seja lá como você queira chamar. Sou bem parecido com a minha mãe nesse sentido. Mas ainda sim sempre fui uma pessoa doce e carinhosa, como ainda sou com as pessoas próximas.

Então por que me deixar levar por essa toxicidade, por que a agressividade é um caminho tão inebriante. Me recuso a acreditar que isso parte apenas da testosterona. Deve ter algo a mais, eu não cresci numa casa com homens, aliás meu contato com eles era mínimo, se reduzia aos meus tios em datas comemorativas. Mas ainda sim a alegoria do macho a qual fomos criados me absorve.

Eu não gosto de mim com raiva, embora eu conheça muito bem esse sentimento. Gosto mais de mim alegre, rindo e fazendo rir. Percebo que fui me tornando áspero com o passar do tempo. Talvez não tão áspero como uma parede de chupisco, mas ainda assim gerando atrito e provavelmente machucados.

Ser gentil é realmente um ato de resistência, ainda mais sendo esse ser moldado à força bruta a quem demos o nome de homem.

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Te amo, mas…

Eu acho que ando me questionando sobre meu amor. Não o amor que sinto, mas o meu amor como forma e conteúdo. Quero me unir a ti por puro amor? Ou nesse querer tem raízes de um pensamento compulsivo de união?

Existe sim a praticidade e segurança de uma vida a dois, mas para além disso existe o querer consciente. E nesse caminho de puxar o que é daninho percebo enroscado nas minhas raízes partes do meu amor e assim, sem querer, me questiono por que te amo. Dizem que você merece alguém que sabe te ama por completo. Será que não merecemos também aquele que se questiona se te ama por você ou pela ideia que tem de você?

Sartre elabora o amor a partir do querer legítimo, do protagonismo do sentimento em si. Da decisão diária de amar e nesse sentido entendo que te amo, mas aceito as dúvidas que me consomem sobre o que está dentro do nosso amor. 

“Eu te amo, mas…” de repente me parece uma narrativa possível, um convite para juntos investigarmos o por que do nosso amor e como lidar com as partes do outro que ainda não aprendemos a amar. A reticência aparece como recurso deixando aberto o caminho para crescermos quanto um mesmo quando somos dois.

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Vamos andando pra casa…

Tenho escolhido o caminho mais longo para os destinos mais próximos, sinto falta de andar em silêncio pelas ruas e esse pequeno ato de rebeldia me permite aproveitar um pouco o meu espaço interno enquanto ando mascarado por vias públicas.

Você já reparou que os pelos do nossos corpos se viram pro sol? E a gente aqui achando, na insignificância das nossas rotinas, que só o Girassol tem tal pacto. 

Da brisa leve ao vento forte que arrasta meus cachos para trás dando volume a mata que nasce da minha cabeça. A roda do carro na asfalto da rua vazia fingindo ser onda de mar sereno. As conversas picadas das pessoas que passam, me interesso por quase tudo que me é permitido no espaço de quatro passos até me distanciar novamente dos objetos.

Tem outra padaria que fica mais longe, penso ao me aproximar do primeiro destino. Olho distante calculando o trajeto versus a quantidade de pessoas na rua. Decido mudar meu objetivo, mais tempo para desviar dos buracos das calçadas assimétricas de São Paulo. Mais sola de sapato gasta. 

Pessoas são estranhas na sua individualidade, é um ato de coragem, transformar tais estranhezas em histórias que empatizam. Um investimento feito em parcelas de tempo. Exige conversa. Não à toa, a alquimia que leva do preconceito ao pós-conceito fica restrita aos poucos que se demonstram interessados pela arte milenar da escuta. Deixar os ouvidos abertos, martelos e bigornas expostos, em uma porção de horas, não minutos, jamais segundos. Algo assim não é possível ao caminhar sozinho pela rua.

Teria que ter um convite. Ei! Você, desconhecido, quer caminhar comigo? Me conta sobre a sua vida. O que você pensa? Com qual lente você escolhe enxergar o mundo? Que livro vocês está lendo? Você prefere livro de papel ou kindle? No cinema, depois de um dia cansativo, você escolhe um filme cabeça ou uma comédia leve? Um filme de distr-ação? Num dia frio, Netflix embaixo das cobertas, ou colocar uma roupa quente e deixar o rosto secar com o ar gelado na fila de algum teatro no centro da cidade? E depois que tudo acaba? Você me convida pra voltar andando pra casa? 

O tempo, restrito a olhos nús, se prolifera com tamanha facilidade quando entra em contato com a disponibilidade do outro. Acho que nesses casos deve ser uma reprodução assexuada por brotamento.

Chego ao meu destino e ao me deparar com a volta me questiono, voltar pelo caminho mais curto? Ou retomar meus passos e trocar meu tempo pelo caminho mais longo?

E você estranho? Por qual caminho você vai?

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Brocha

Tem um dia que seu pau falha
Tem uma semana que não é só um dia
E tudo aquilo que você julgava primordial
sobre a sua vida sexual falha também.

Tilt, tela azul, pane no sistema
da sua masculinidade.
E no final das contas como o macho é que é frágil
com uma só gota de sentimento
toda sua realidade vai pra ralo

Seu corpo repleto de adrenalina,
drena através da via sanguínea
todo plasma, hemácias, plaquetas e leucócitos
liberando maior circulação nos músculos
para te preparar para a fuga.

Correr então parece o único caminho possível
saltar daquela cama e correr,
Pois até seu corpo te engana e vê isso como um risco
Mas a gente sabe mais que isso
A gente já entende o que é gatilho
Não há mais tempo para todo homem
seguir culpando sua biologia.

Nossa mente vive para nos mostrar
comprovar que quando a água bate na bunda
todo esse conhecimento desce pela descarga
e só fica você num quarto
tentando fazer sentido do seu tesão
com o pau caído na mão
Se cobrando força
quando tudo que você precisava era não se cobrar de nada

E ninguém te fala
que mesmo mole
existe espaço para desbravar o seu tesão
descobrir o prazer flácido da sua glande
o arrepio das suas bolas
e o toque do períneo

Mas ninguém aborda isso
Ninguém nunca desenhou um mapa alternativo
quando o outro corpo pede a penetração
mas seu corpo só consegue dizer não
E na sua cabeça a narração
Problemas de ereção?
Não! Não! Não!
Comigo não

Você conhece tão pouco o seu corpo
que não entende que depois de uma certa idade
nem a imaginação faz a sua parte
seu líbido fica esperto
e pequenos truques dão lugar a estímulos mais diretos
leva-se mais tempo para a rigidez costumeira
E mesmo assim a sua função erétil
pode estar abalada por tantas outras coisas
coisas da mente
coisas do sangue
coisas da gente.

Tem mesmo é que existir pessoas lindas na quebrada
gritando aos quatro ventos
que não há necessidade do seu grande pau ereto
Pra esse papo ficar reto
e ver se finalmente você se liga
que brocha também pinta.

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