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Categoria: Crises

Ansiedade

Você tenta respirar fundo, tenta se concentrar apenas na sua respiração, daquele jeito que você aprendeu, que você sempre fez, mas tem vezes que a onda é tão grande que passa por cima de você.

Milhares de coisas passam pela sua cabeça ao mesmo tempo. Medos, anseios, dúvidas, angústias, alegrias, teorias, etc. Quando você se da conta nem respirando você está. Suas mãos e testa suam, seus olhos só enxergam o caos da sua mente e você sente seu corpo afogar num mar de emoções. Você está a deriva, em mar aberto.

Você pensa que é forte e que já passou por crises maiores. Você quer acreditar que é forte e que já passou por crises maiores. Você precisa ser forte e passar por só mais essa. Seu corpo inteiro pesa, você quer chorar e gritar. Grito mudo que ninguém ouve.

Segura firme o gelo entre as mãos e acolhe. O frio arde, mas você aguenta. Por favor passa, só dessa vez, passa sem levar minha sanidade contigo.

Na maioria das vezes ela passa, mas algumas vezes ela finco os pés no peito e fica.

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Dragões de fumaça

http://www.flickr.com/photos/leonardovilela
Pela janela eu vejo os pássaros voarem. Me deparo com o meu reflexo e as lembranças do passado se materializam quando a minha iris encontra a iris da minha imagem.

São quinze para o meio dia e minha mente viaja. O barulho do motor ainda não venceu o cantar dos pássaros. Minha boca seca pensa no corte igualmente seco da minha história. Sempre fui de matar dragões e isso te deixa meio áspero. Talvez por isso memórias se tornaram afago.

Não sei ao certo em quanto tempo o sol vira lua, mas sei que durante esse tempo imaginário minha vida se desfez e nasceu de novo por diversas vezes. Águas passadas sempre caem no mar, salgam a boca e viram ondas de crista branca.

O volume dos carros começa a vencer o dos pássaros.
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Faces da Liberdade

Foto de Marcelo Souza Almeida
 
Tenho ouvido batalhas, protestos, conflitos e gritos. Tenho visto o povo gritando e se agitando. Percebo a fúria de uma população que se acostumou ao silêncio. Uma panela de pressão pronta para espalhar feijão no teto.
Penso nos motivos e nos discursos, não se trata de liberdades coletivas, mas de liberdades individuais. O povo se agita e grita, pois cansou de negar a si em prol de um coletivo nuclear, que é atribuído de um sentido mágico de segurança.
Nas ruas eles clamam pela liberdade do próprio corpo, de se mostrarem como são por dentro, pela própria libido que lhes foi comprada. Pessoas morrem em nome de suas próprias vontades que são oprimidas por um aparato social precário e antiquado.
Direito ao útero, ao sexo, ao gênero, ao livre pensamento, ao amor livre. Apelos simples de almas que não querem ser regidas pelos pecados de outros.
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Cabe o silêncio a certas coisas. É como tirar o pó dos móveis imóveis na sala de estar. Calado e atento eliminando cada milímetro de poeira que se esconde por de baixo das estatuetas.
Esse ritual lento de limpar as coisas é um reflexo da nossa necessidade de vida. É necessário levantarmos os órgãos para tirar o pó que se guarda por de baixo deles. O mundo me parece surpreso com detalhes que não se escondem em segredos, mas sim em atos corriqueiros que passam despercebidos.
A vida tem seus momentos confusos e conturbados, existem dores imaginárias que se mostram como flechas vermelhas que atravessam o estômago da gente. Existe algo que ainda dói, embora ainda não saiba bem o que ou onde essa poeira de dor se esconde.
Se limpa até mesmo embaixo das unhas. Um dia esse pó há de sair, nem que seja após cada molécula se tornar novamente pó.
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Sinto…

Foto: Leco Vilela / Edição: Camila Stella
Sinto falta de um país singelo, sem medo e com zelo pela alma alheia. Sinto falta dos bons tempos de menino, onde o pique era um poste e não blindagem para te proteger dos inimigos.
Sinto falta de acordar ao som de pássaros no pé da minha janela, sinto falta de sentir a respiração do vento, de ouvir a árvore falar. Sinto falta das sutilezas, dos detalhes, do tempo.
Saudosismo que não é só meu, que vejo em vários cantos e ouço em outros cantos. Esse jeito de viver a vida assim calado, amado, mesmo que por si, é um jeito nostálgico de querer de volta a vida que me foi roubada, é do sútil que tenho falta.
Daquele sorriso faltando um dente de leite, do cheiro de bolo a gritar no forno, sinto falta não da minha juventude, nem dos meus tempos de menino, sinto falta é das crianças que enxergam vilas em caixas de sapato.
Parece que de um jeito torto o mundo perdeu o posto, perdeu respeito, perdeu amor. Parece que no fundo do mundo só a lava e não outro mundo, como há tempos atrás se dizia. Parece que tudo perdeu a magia. E aquele menino mirrado, que mesmo apanhando continuava a conversar com a sua árvore, ficou esquecido e empoeirado nas estantes do tempo.
Sinto. Por isso escrevo este manifesto de peito aberto, pela retomada do simples afeto, pela volta de algo simplesmente belo, por algo simples e não complexo.
Foto: Leco Vilela / Edição: Camila Stella
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