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Categoria: Momentos

O Elevador

Ela, presa em cinco metros quadrados. O escuro e seis vultos de ombros largos. Então, como quem esperava pela dor, ela recebe o amor. Um beijo que lhe rodou a cabeça e lhe deixou as pastas caírem no chão.

Seu coração acelerado a fazia tremer levemente, mas no escuro ninguém se denunciava, nem mesmo seu tremor. Uma vida seca era exposta a cada segundo que ela permanecia presa ali. Paredes de metais não são naturais, pensava. Quanto tempo pudera viver assim? Quem secretamente lhe desejava? E por que de repente se sentia diante do liquido viscoso de uma barata como em seu livro favorito?

A dúvida, de repente só isso existia. Cinco metros quadrados se transformaram em centímetros quadrados. Sufocava. E como se seu peito abrisse e se enchesse de ar a luz se acendeu. A porta se abriu. Seis homens saíram. E ela, pois ao chão recolhendo os papeis caídos como Terezinha a espera de quem lhe de a mão.

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Momentos

A primeira vez que li “Paixão Segundo G.H.” de Clarice Lispector, foi a mais ou menos 3 anos atrás.


Era 26 de Dezembro de 2007, eu estava sentado em um café na rodoviária do Tiête. Eu esperava o ônibus que me levaria a Belo horizonte.

Lembro de tomar café enquanto abria pela primeira vez aquele livro, um presente do meu diretor e amigo, tamanha foi minha surpresa ao ouvir as teclas de um piano a tocar, e assim constatar que o som era real e não uma tradução da minha sinestesia. Uma mulher havia se sentado ao piano que só naquela hora pude perceber, fazia parte do cenário local.

Voltei a ler alimentado por aquela melodia e então; G.H. entra no quarto de sua antiga empregada, disposta a limpá-lo, a traduzi-lo, mas para sua surpresa o quarto estava lá, imaculado em sua neutralidade. Com essa cena em minha mente outra coisa me surpreendia. Nas migalhas da minha torta de palmito estava um passarinho a se alimentar… A poucos centímetros de mim. Convivia com minha presença com tamanha indiferença. Alimentava-se.

Excitado pelo momento quase mágico ao som do piano a ao ciscar do pássaro à minha frente, voltei a ler. E lendo eu tinha à esperança de que algo mais acontecesse. Algo que desafiasse a vil lógica dessa terra com nome de santo.

A voz no alto falante me despertava. A realidade era anunciada, o ônibus chegará. Oito horas depois e com o livro terminado eu desembarcava no verão abafado de Belo Horizonte.

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