Skip to content

Categoria: Sem categoria

Melodia

Me sinto tão quebrado que as vezes parado na brisa suave da grama que queima estalando bolhas de seiva explodindo no céu da minha boca enquanto nossos corpos se apertam, eu sinto um pedaço sendo colado no monte de cacos que a vida me deixou.

Sei que parece trágico e um tanto canceriano para um aquariano nato, mas é que meu vênus é em peixes e as vezes pequenos gestos já me deixando úmido, babando no céu da sua boca…

Quando eu tô contigo eu percebo como é lindo, nossas piscinas de energia se chocando em gravidade zero, explodindo silenciosamente e se espalhando lentamente, como naqueles filmes nostálgicos que falam sobre o espaço. 

Prosa é coisa rara, assim como essa tara que seu corpo teima em se esfregar com o meu. Beijo estalado, lábio molhado, você sorrindo de quatro.

Ah! Eu precisava correr pra escrever essa melodia enquanto meu rosto vazia covinha lembrando que seu corpo ainda está quente junto ao meu. Você me olhando sabendo que bateu, sabendo que eu só tô botando pra fora as coisas que geralmente tranco pra mim, sabendo que vai passar e eu sorrindo vou te olhar agradecido e fazendo o pedido pra isso que a gente tem ser vela de sete dias ou aquelas cumpridas que demoram vários dias, anos, décadas pra queimar. Pedir que nosso pé ficar sempre juntinho de baixo do edredom.

Leave a Comment

Os conselhos de Caio

Caio era um homem de seus 35 anos, cabelos castanhos, mas com fios nitidamente ruivos, o que pontuava o grisalho chegando. Sem barba e com leves olheiras, Caio tinha um corpo comum.

Caio sempre foi o mais quieto dos seus primos, não que desgostasse as brincadeiras de correr, mas simplesmente preferia ficar deitado na rede vendo as coisas acontecer ao redor.

Hoje, na sua terceira década ainda mantinha seus momentos de isolamento, mas era bem disposto ao convívio social. Inclusive ganhará o título de ombro amigo, todos em sua volta confiavam nele, largos segredos e trambolhos de angústia. A sua predisposição ao silêncio permitia que sua escuta fosse ativa. Com o tempo foi se tornando cirúrgico, abria a boca quando necessário, e dessa forma arrancava verdades que muitas vezes não estavam prontas para ver o dia.

Demorou pra perceber que seus conselhos e comentários mais machucavam do que ajudavam, se tornou impaciente e afastava todos que tornaram-se dependentes das suas verdades.

O peso de medos, anseios, dúvidas, todos findados em seus ombros. Deveria aprender a lidar com isso, mas até lá cortaremos o mal pela raiz, pensou. E a partir de então evitava os conflitos, segurava seus conselhos pra si e ao ouvir algo imaginava-se transparente como o evento, tentando dessa forma que os problemas o atravessassem sem se deter em seu peito.

 

Leave a Comment

Agressão

Vai, soca minha cara! Chuta minha barriga! Atira em mim, VAI!

Você não percebe que a cada tapa, soco ou lampadada que desfere contra mim, você está agredindo a sí mesmo? Ainda não entendeu que você tenta matar em mim a parte de você que te assusta? Está com medo do que?

Você não passa de um menino assustado, teme o que não entende.

Eu tenho pena de você.

Lamento que você não possa ser você mesmo. Se eu pudesse te pegar no colo e acolher toda essa angústia que alimenta seu ódio eu faria, mas não existe no mundo alguém capaz de lidar com isso além de você mesmo.

Esse seu ódio é responsabilidade sua e enquanto você não enxergar que quem está preso contra a parede se debatendo é você e não eu… Esse sentimento não vai passar.

Você não tem o direito de levantar sua mão pra mim.

Me matar não vai matar quem eu sou em você.

Simples assim.

Por isso você pode tentar me bater, me chutar e até mesmo me espancar.

Que ninguém, nem você, vai me dizer como amar.

Leave a Comment

Desejo

Silêncio. Você está num lugar cheio de pessoas que conversam, bebem e se acariciam. Seus olhos só existem quando focam nos olhos do outro.

Você respira pelo nariz, enquanto o sorriso, originado da conversa entre os olhos, se ruboriza e demonstra em milésimos de segundos o desejo pelo outro.

Sua respiração segue lenta enquanto você disfarça, seus amigos mexem a boca de uma forma engraçada, mas você não entende uma única palavra. Volta seu rosto a procura do outro. Aqueles olhos, aquele sorriso, aquele corpo… Sua pele se arrepia e o espaço dentro da sua cueca é preenchido.

Olhos se cruzam novamente e passos são dados. Aproximação. A mão que vai no ombro na desculpa de falar no pé da orelha, o lábio que se morde ao ver a boca do outro abrir e fechar em gestos vocálicos, a risada interessada que joga a cabeça pra trás para evidenciar o pescoço e o cheiro do outro se misturando com o seu. Saliva. Um lábio que vai no outro. Um braço que envolve a cintura. Um abraço que enreda os ombros. Desejo.

Leave a Comment

Cacto

Cacto,
Suculento espinho.
Feridas crescem como novas partes do seu ser.

Raizes grossas,
Resiliente planta.
Mudanças bruscas não te impedem de viver.

Areolas fortes,
Sustentam seus espinhos.
A todo ser é dado uma estrutura de defesa.

Mas ainda assim,
Dentro de seu corpo forte,
Guarda a riqueza do que lhe falta em volta.

Seus lábios machucam, mas a sede do seu beijo não termina.

Leave a Comment