Skip to content

Categoria: Crônica

Carta para o céu – O Avesso do Mundo

Hoje eu vi na tevê que o bicho que vive no centro da terra não para de ser mexer, ele deve estar tendo um pesadelo.

O ruim é que ele deve ter acordado o bicho que vive no mar, pois esse, nervoso pois-se a espirrar. O bicho do mar deve estar doente e talvez por isso tenha se irritado tanto, afinal ser acordado pelo irmão quando não se sente bem é de se deixar revolto.

Dessa vez a terra dos olhos puxados sofreu sem ao menos ver a cara dos monstros, mas acho que logo estará tudo bem, afinal quando um monstro destruía Tóquio, na tevê, na semana seguinte a cidade já estava inteira, prontinha para vir outro monstro e destruir tudo de novo. Pensando bem, eles devem estar acostumados com isso.

Já aqui no Sul dessa terra que já foi verde, as cidades parecem feitas de açucar, pois se destroem a cada chuva. Enquanto lá do outro lado do mundo super heróis brigam contra monstros gigantes, aqui desse lado só nos falta é guarda-chuvas.

2 Comments

A Minhoca de Metal

por Leco Vilela
Dentro da minhoca de metal você vê a vida passar e nem se percebe ao mexer, nessa rotina aturdida de todos os dias, nem ouve o som do tilintar dos trilhos.

Sentado diante da janela dos olhos da minhoca, você vê a paisagem se distorcer num ZOOM. As imagens se formam e se dilatam enquanto os olhos piscam. A velocidade nunca cessa.

E nesse ritmo a cada manhã a minhoca come para depois regurgitar cada um de nós, aqueles que não deixam a cidade parar.
4 Comments

Uma carta para o céu

Foto por Leco Vilela

Olhar pela janela se tornou um hábito engraçado para mim. É que o céu ultimamente tem brincado de aquarela, pena que São Paulo é um potinho impermeável e não aceita a água que escorre do pincel. Uma ou duas pinceladas e pronto o pote já está cheio d’água.

Ah que bom seria se junto com essa água toda viesse um patinho de borracha, e que a água fosse limpa ao ponto de eu abrir a boca pro céu e me colorir por dentro, mas sabe como é que é né! Água com muita tinta, mistura e fica cinza.

E em quanto o céu brinca de se pintar em nuvens, as pessoas aqui embaixo brincam de chover pelos olhos, pois sem querer o céu jogou o potinho cheio d’água com tudo dentro pelo ralo.

6 Comments

O Discodante

O post de hoje será dedicado ao Dia Mundial de Combate a AIDS
 
“Homem, mulher, gay, lésbica, hetero, bi e travesti, não importam as siglas. Ela não escolhe barraco ou residência, cor ou tendência e quem dirá credo ou prepotência.

Imprudência não é amar, imprudência é negar a existência. A sua existência. O caminho mais rápido para um fim é assumir o silêncio que cada célula do seu corpo grita. Imprudência não pode ser amar.

Nesse conto de fadas moderno o vilão é interno e imortal. A espada mágica não existe e Merlin se perdeu no tempo. O que fazer com os devaneios de uma vida? Nossa queda é eminente, a diferença é que nesse grande tabuleiro sua rainha está em cheque.

O dia segue e a noite chega. Veste sua armadura pra poder amar sem medo. Sem receio do veneno que escorre do teu corpo. Desarmado não temo o beijo. Ser discordante nesse caso é opção. Confiança de que meu corpo para você continue imaculado. Nossa troca de sentimentos não envolve seus fluídos, as partes eternas que não se unirão sobre o abraço vigiado dela. Ela existe, assim como a fruta mordida do seu passado. Sua saliva ácida queima minha pele e mesmo assim te quero. Bomba relógio. BOOM
1 Comment

Uma boa história

Ele põe seus óculos com aro preto. Senta-se na frente do computador e começa o ritmado jogo de teclas. Ele pensa, estrala os dedos e rói a pele envolta deles.

A idéia precede o ato de escrever, é necessário uma idéia fixa, um ponto de interrogação, uma ponta interna que às vezes chega até a doer; então como quem não quer nada põe-se a escrever. Expressa-se.

Às vezes quem ajuda o ato é o silêncio, outras vezes a música se faz necessária. Cria-se um clima. Imaginem:

“gêmeos de alma correrem pelo pasto verde com o sol a fazer sombra em seus corpos ascendentes”.


E pronto você já tem um inicio, uma idéia, uma hipótese.

Agora é necessário chegar até o fim dela. Sem um final a história lhe incomoda por dias, ela pede para ser terminada, ela clama por uma conclusão plausível, veja bem PLAUSIVEL, não boa ou ruim, mas plausível. Uma história não é dicotômica, ela não briga entre o bem e o mau enquanto é escrita, ela simplesmente é o que os dedos fazem dela.

Algumas histórias surgem de cadernos com as canetas de pontas finas. As canetas de pontas finas são as minhas favoritas. Elas parecem correr pelo papel e às vezes escrever coisas que nem nos demos conta que pensamos, muitas vezes são mais rápidas que os dedos.

Enfim, ele põe seu óculos ao lado, esfrega os olhos, respira fundo e revisa o texto, uma, duas, três… Quantas vezes o texto lhe pedir. Corrige, arruma, tenta limpar as imperfeições e manter o coração pulsante do próprio texto, que é independente da sua vontade. Depois de escrito, o texto já não é mais dele. Depois de tudo isso feito, de toda essa história, pode-se ter a chance de ter uma boa “história” para contar.
1 Comment