Skip to content

Tag: poema

Brocha

Tem um dia que seu pau falha
Tem uma semana que não é só um dia
E tudo aquilo que você julgava primordial
sobre a sua vida sexual falha também.

Tilt, tela azul, pane no sistema
da sua masculinidade.
E no final das contas como o macho é que é frágil
com uma só gota de sentimento
toda sua realidade vai pra ralo

Seu corpo repleto de adrenalina,
drena através da via sanguínea
todo plasma, hemácias, plaquetas e leucócitos
liberando maior circulação nos músculos
para te preparar para a fuga.

Correr então parece o único caminho possível
saltar daquela cama e correr,
Pois até seu corpo te engana e vê isso como um risco
Mas a gente sabe mais que isso
A gente já entende o que é gatilho
Não há mais tempo para todo homem
seguir culpando sua biologia.

Nossa mente vive para nos mostrar
comprovar que quando a água bate na bunda
todo esse conhecimento desce pela descarga
e só fica você num quarto
tentando fazer sentido do seu tesão
com o pau caído na mão
Se cobrando força
quando tudo que você precisava era não se cobrar de nada

E ninguém te fala
que mesmo mole
existe espaço para desbravar o seu tesão
descobrir o prazer flácido da sua glande
o arrepio das suas bolas
e o toque do períneo

Mas ninguém aborda isso
Ninguém nunca desenhou um mapa alternativo
quando o outro corpo pede a penetração
mas seu corpo só consegue dizer não
E na sua cabeça a narração
Problemas de ereção?
Não! Não! Não!
Comigo não

Você conhece tão pouco o seu corpo
que não entende que depois de uma certa idade
nem a imaginação faz a sua parte
seu líbido fica esperto
e pequenos truques dão lugar a estímulos mais diretos
leva-se mais tempo para a rigidez costumeira
E mesmo assim a sua função erétil
pode estar abalada por tantas outras coisas
coisas da mente
coisas do sangue
coisas da gente.

Tem mesmo é que existir pessoas lindas na quebrada
gritando aos quatro ventos
que não há necessidade do seu grande pau ereto
Pra esse papo ficar reto
e ver se finalmente você se liga
que brocha também pinta.

Leave a Comment

Cacto

Cacto,
Suculento espinho.
Feridas crescem como novas partes do seu ser.

Raizes grossas,
Resiliente planta.
Mudanças bruscas não te impedem de viver.

Areolas fortes,
Sustentam seus espinhos.
A todo ser é dado uma estrutura de defesa.

Mas ainda assim,
Dentro de seu corpo forte,
Guarda a riqueza do que lhe falta em volta.

Seus lábios machucam, mas a sede do seu beijo não termina.

Leave a Comment

Oceano

Foi sentado numa duna olhando o mar que eu entendi. Aquele sentimento que bate no peito toda a vez que meus olhos cruzam com a imensidão azul.

Gratidão, paz, acolhimento, pertencimento, etc. Entendo a fixação de Neruda pelo mar, seus joguetes de palavras, suas cadências em ondas, seu ritmo de remo em cada sentença.

Darwin presumiu que evoluímos, que num momento longínquo da história dividimos o mesmo útero com todos os outros seres, o oceano. Talvez seja por isso todos esses sentimentos que se resumem em clichês, esses momentos de inspiração, aquele conforto de dormir semi nu cercado de areia. Tamanha a segurança que sentimos diante dessa deusa com seu véu azul que estoura em conchas.

Mãe, rainha e criadora, obrigado pela vida que me deste e obrigado pelo dom de tecer palavras assim como aqueles pescadores que colhem em rede seus frutos.

Obrigado por dar-me o pão e a água.

Obrigado por me ensinar a fazer parte.

Obrigado por me deixar te amar.

Leave a Comment

Gin com Tônica

Foi no segredo do teu copo que eu encontrei o teu olhar.
Foi no gole seco e cheio de histórias que eu te vi passar.
Equilibrista do meio fio a cambalear.
Dançarina sem ritmo que no faltar da música  pois se a cantar.
 
Cantando a magoa do peito aberto,
Chorando Gin na esquizofrenia de seu sorriso.
Ela flutuava entre os paralelepípedos.
 
Litro por litro e Grand Jeté.

 

Leave a Comment

Muda

Hoje eu não acordei triste e nem contente.
Hoje eu acordei diferente.
 
Ao abrir os olhos, em direção das persianas fechadas, descobri o motivo da madrugada mal dormida.
 
Havia passado a noite redecorando a alma, tirei dali toda decoração inútil, despreguei cada orgulho e cada ato egóico, me livrei do fardo pesado da mágoa. 
 
Me perdoei.
 
Na parede branca da minha alma deixei meu retrato de criança cercado por boas memórias do meu passado.
 
Só depois dessa árdua faxina que me dei conta de que meus olhos estavam embaçados com os meus fantasmas e que por isso me viam bem pior do que eu realmente era.
 
Floreci.
 
 
Leave a Comment