Calça jeans rasgada estreita na altura da canela, mas um pouco folgada na sua cintura. Camiseta preta e longa. Moletom cinza com capuz e ziper. Barba por fazer. Cabelo raspado. Fones nos ouvido sem nenhuma música. Tênis escuros de sola branca meio encardida.
Caminha sob um piso de granito também encardido. Cada passo em um ritmo calmo, inspira… Expira…
Foi até o guichê e comprou dois bilhetes, desviou de desconhecidos e inseriu um deles na catraca, deixou-se rodar. Caminha para direita simplesmente por que sempre fazia isso, desceu as escadas com pressa, deixando o peso do seu corpo em queda puxar o ritmo. Aterrissou num chão sintético, preto com bolhas pretas, antiaderente. Caminhou até o final da plataforma.
Ouviu de longe o atrito entre o trem e os trilhos, seu corpo parado no exato lugar em que a porta viria a se abrir ao toque de uma campainha rápida de dois tons. Projeta seu corpo para o banco da janela no sentido que o vagão seguirá os outros vagões.
87 quilômetros por hora, é a velocidade média em que a cidade corre para trás da janela. Os olhos vidrados no nada, a melancolia de um espaço público transformado em um momento de isolamento. Os problemas passam nesses 87 quilômetro por hora.
Levanta o corpo imóvel a mais de 20 minutos e se põe em frente a porta, ao ouvir a campainha rápida de dois tons atravessa a plataforma sem correr e entra em um novo vagão. Sentido oposto, sem espaço para sentar se coloca ao lado da porta. De pé. Olha as minúcias das pessoas em sua volta. Três estações se passam e seu corpo já sabe o caminho para aquela ingrime escada rolante que termina em roletas e pessoas que veem e voltam como ondas.
Tira os fones do ouvido com um sorriso calmo no rosto, vesti o capuz do moletom e sai pela esquerda enquanto some nesse mar de pessoas.