Eu estava quebrado quando eu decidi partir, alguma coisa dentro de mim não encaixava, não me sentia inteiro, presente, com amigos, família, casos… Eu não me sentia completo quando comprei aquela passagem só de ida. Cada parte do meu corpo me pediu pra sair dali, vibrava pedindo um tempo, uma espaço da situação. Acho que eu só precisava disso, olhar tudo de uma distância física. Eu precisava me desplugar de tudo, afastar todos os vínculos e afetos para conseguir me ouvir. Eu me sentia horrível querendo tão desesperadamente sair de uma situação que me deixava desesperado.Eu me culpei durante muito tempo por ir, por cortar esse vínculos, hoje frágeis, provavelmente por causa disso. Mas eu precisava ficar sozinho, às vezes é o que eu preciso. Como naquele meu aniversário, em que eu peguei uma carona por três horas só pra ver o mar no dia do seu aniversário. Tem anos que é fácil lidar com isso, mas tem dias que dói meu corpo todo. Nesses dias eu preciso ficar sozinho. Por que tanta culpa e autoflagelo? Por que ser tão difícil e tortuosa a decisão de respeitar a própria vontade? Aceitar a necessidades pura e simples de se afastar, não é como se eu deixasse de amar assim de repente as pessoas que deixei pra trás. Foi todo um processo que minha vida me levou e eu só fui dizendo sim. Sim pra mim, pra mim, sabe? Dizer sim, sim pra mim! Parece simples agora, né? Dizer sim para si! Mas é complicado para um cacete. Entender o qual das vozes da sua cabeça é você, qual é seu pai, seu menino, sua mãe. são tantas, mas tantas vozes falando ao mesmo tempo. As vezes me sufoco, me afogo entre minhas próprias sílabas. Então, não, não é fácil dizer sim pra mim, pois isso implica a total consciência sobre minha identidade, o meu completo gozo de faculdades mentais, mas a essa altura do parágrafo você já nota a minha insanidade em cadeia lógica. Você percebe como um um conto vira prosa? Como floreio minha visão sobre o mundo. Essa é a hora que eu devo culpar a minha vênus em peixes? Ou devo ser sincero e dizer que eu me afastei porque eu precisava aprender a me amar.