Sueli era uma mãe de família. Casada com uma filha ainda pequena, Sueli vivia sua vida como todos nós, um dia após o outro. Seu ofício era próximo de casa e fazia natação, quando possível.
Trabalhava num escritório de design, era um ambiente moderno e caótico, um cabaret revisitado. A parede de tijolos ao fundo valorizava um grande neon rosa que dava profundidade aos objetivos e as pessoas presentes.
Um belo dia, indignada com a situação política do país, Sueli desabafou com seus colegas de trabalho sobre os entraves socioeconômicos que tanto a afligiam. Entre falas complexas, Sueli respira profundamente e diz:
O pior vocês não sabem, descobri que Otávio meu marido, pai de minha filha… Tem tendências de esquerda!
Enquanto solta o peso dos ombros, joga para trás do ombro esquerdo sua echarpe a fim de se proteger do golpe cômico do destino. Deposita a mão sobre o colo coberto e mais uma vez respira indignada.
Sueli era assim, uma mãe de família excepcional.