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Categoria: Chuva

Chuva

Aaron Kawai (sekushy)

Lembro-me de um livro que se chamava “A propósito da chuva”, não me lembro do que se tratava, mas sei que o li quando ainda estava no ensino fundamental. Eu era um garoto estranho, de aparelho, acima do peso e triste.

Sei que quem me conhece e lê o Nome da Coisa dirá que é mentira, pois já me viram arrancar tantos sorrisos, mas isso é por que de fato fazer outra pessoa sorrir é algo mágico pra mim e eu gosto quando vejo a boca se horizontalizar, isso me faz bem.

Teve uma vez que eu quebrei um vaso de cimento, que minha avó cultivava umas plantas, com a cabeça de uma prima minha. Ela chorava. Eu sem pensar duas vezes me joguei da escada mais próxima e ela riu. A verdade é que eu sempre soube cair, talvez seja meu corpo acostumado a ser roliço, então fazer aquilo, embora parecesse loucura, era algo simples para mim. Ela gargalhava.

Quando eu olho para o meu passado eu percebo que já me joguei muitas vezes dessa escada a fim de fazer alguém sorrir.

Existe um poema sobre um palhaço que ao se despir vai explicando sobre as tristezas e fraquezas por detrás do nariz vermelho. Identifico-me.

Sou triste sim, mas sou feliz também, acredite, coexisto bem nesse espaço dramático. Gosto de músicas sobre as desilusões da vida, da estética depressiva do cinema francês ou ainda dos lamentos das canções de marinheiro.

A verdade é que eu sempre fui assim, um cara estranho, que mesmo triste, sorri.
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Ontem


Caminho pelo asfalto úmido de uma São Paulo submersa, a luz amarelada do poste faz contraste com as ondas que as gotas que caem dos fios, provocam em uma poça.

Do meu lado direito a igreja escura de janelas claras e vitrais coloridos se mostra imponente. A estética de uma cultura banhada no fogo.

O vento gelado corta meu rosto e infla em balão a toca do meu casaco. Só sei dançar com você, isso é o que o amor faz. Meu fone enterrado nos tímpanos.

Jeans rasgado, e agora molhado, aperta a minha pele. Caminho com passos largos e explodo poças quando possível. Noite fria de inverno.
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Chuva Ácida

Ainda me pego a pensar na chuva que cai firme no chão. Existe uma variante quântica na forma como as gotas tocam meu rosto marcado por ângulos fortes.

Não sei ao certo o tamanho da mágoa que se acumula em meu peito, mas sei que boa parte se foi com correnteza que verteu das ladeiras asfaltadas. Em sonetos ácidos minha vida se resume e se expande. Desafio a física a cada respiro.

Louco, poeta e artista. Eis me aqui a contemplar o choroso céu se esvaindo no verão de pedra que só essa terra já batizada de garoa proporciona.

Rios que se enchem de desespero, cachoeiras que quedam com os sonhos de pau-a-pique e papelão. Vivo numa tangente que consome homens inteiros, reduzindo-os a um choro que rasga a pele suja.

Lá se vai mais uma vez a chuva e com ela tudo que lhe cabe levar. Aos excessos que escorrem pela sarjeta áspera da capital.
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