Categoria: Crônica
Poema
Paira
Quando me olho no espelho e a dúvida paira pelos meus olhos e o reflexo turva com a minha respiração. Existe uma sombra do outro lado de mim, meu avesso, minhas loucuras.
Eu tenho caminhado cansado por entre as ruas, cantando alto aquelas músicas de chuva e bebendo vinho pra poder dormir. Minha alma inteira sem saber pra onde ir.
Minha palavra cala antes mesmo de existir. Estou seco de palavras e simplesmente, não sei pra onde ir.
Falta-me o ar.
Mudança
Pôr do Sol em Porto Alegre |
Não sei o motivo social ou antropológico dessa busca, talvez se assemelhe com o sentido da vida. A verdade é que nos bombardeiam com imagens e sons da felicidade ideal, nos ensinam que não somos como os outros animais porque pensamos, mas para mim nossa única vitória é termos a sorte de ter nascido com um polegar opositor.
Lembro que quando criança eu dizia ser um mutante, diferente de todos, oposto ao desejado. Esse sentimento de negação do próprio ser talvez seja a sensação menos compreendida por um adulto. Os grandes parecem não se lembrar de quando eram crianças e não queriam a própria história e sim outra qualquer.
Um humano adulto deveria poder reescrever sua própria história, mudar caso necessário ou desejado. É justamente este o “super poder” que toda criança secretamente deseja do adulto, poder mudar a própria realidade.
Mas fazer o que, se vivemos num mundo que abomina a dor? Que ao invés de aprender com esta força, simplesmente a ignora. Nem mesmo o mertiolate dói mais. Somos filhos de país carentes, filhos de uma nação desamparada, filhos do silêncio e do medo. Libertaram-nos das algemas, mas não nos disseram como andar.
Um elefante criado em cativeiro não precisa de cerca quando adulto.