Desenho de Luiz Porta |
Categoria: Crônica
Pó
Macarronada
Alguns sábados caracterizados de domingo se escondem nos marasmos de fevereiro. Aqueles corações se suportam entre olhares e sonatas, suspiros e pastas. Abrem-se sorrisos amarelados enquanto o vinho, a cerveja e o café correm pelos lábios ácidos entorno da mesa.
Chuva Ácida
Não sei ao certo o tamanho da mágoa que se acumula em meu peito, mas sei que boa parte se foi com correnteza que verteu das ladeiras asfaltadas. Em sonetos ácidos minha vida se resume e se expande. Desafio a física a cada respiro.
Louco, poeta e artista. Eis me aqui a contemplar o choroso céu se esvaindo no verão de pedra que só essa terra já batizada de garoa proporciona.
Rios que se enchem de desespero, cachoeiras que quedam com os sonhos de pau-a-pique e papelão. Vivo numa tangente que consome homens inteiros, reduzindo-os a um choro que rasga a pele suja.
Lá se vai mais uma vez a chuva e com ela tudo que lhe cabe levar. Aos excessos que escorrem pela sarjeta áspera da capital.
Compulsões
Nem mesmo os frondosos arranha-céus serviram para que o macaco bípede alcançasse o céu e seus sonhos. Vejo sonhos transformados em hobbies, vejo dinheiro descendo pelo ralo e ainda tento entender a dança de king kong’s pelos prédios de São Paulo.
Bailarinos executivos e pintores contadores compõem a estranha fauna que aflora na cidade do asfalto. Chega a beirar o surrealismo as imagens que se produzem na sombra dos Homos Operarius. Formigas de terno e gravata enfeitam suas paredes com falsos Picassos e eternas rachaduras insolúveis. Basta-me ver o camaleão que se força a encaixar suas cores a palheta monocromática da sociedade “civilizada”.
Lampadas não iluminam mais, agora servem de sabres de luzes que matam inocentes. Estupro, morte, latrocínio, furto, homicídio; relatos sangrios direto D’antena que invadem os olhos cortados da infância.
Corações batem desesperados numa dança de acasalamento bizarra conduzida unicamente pelo prazer individual excluindo o respeito sagrado do corpo. Leões morrem sozinhos.
Caos e ovos mexidos. E as luzes do planalto da selva cinza ainda brilham a sangrar meus olhos.