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Categoria: Leco Vilela

Eco

Ao acaso um convite, a ausência de uma voz e a necessidade de um tempo. Disse sim. O nervosismo antes do palco, o descontrole da bexiga, a respiração descompassada e meu nome soa no microfone.
Apresento-me desajeitado e tento na medida do possível conversar com todos ali sentados, como se tivesse entre amigos. Tantos olhares. Respiro fundo.
Primeiro o título, depois o parágrafo e assim se faz.  Nas risadas deles enxerguei um humor invisível pra mim. Achei graça em ter graça com frases simples.
Foram alguns minutos, rápidos minutos, que me estamparam um sorriso no rosto. Ainda guardo a sensação das minhas bochechas rubras.
Entre estranhos e conhecidos, li pela primeira vez meus mais secretos segredos. Compartilhei pedaços de mim, me ecoei.
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Cumplicidade

É no escuro que o amor se faz e o gemido se deita ao lado na cama.
O plástico vira pele e penetra lentamente a alma.
O carinho que vem tênue no braço. Artificial tornando-se real.
O prazer em lugares inesperados, impensados, impossíveis…
São expressões fixas que se transformam conforme o olhar.
São corpos estáticos que se tornam fluídos enquanto se enlaçam.
O Desejo além dos olhos são suspiros mudos que se findam nas coxas.
É a cumplicidade de dois corpos que se habitam.

*Este texto foi entregue a quem visitou a exposição ‘Cumplicidade’ nos dias 3 e 4 de agosto de 2012
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O Doce Cheiro da Chuva

Existem muitas coisas que me fazem feliz no mundo, talvez a maior delas seja quando chove e logo após o sol se faz presente. E então o mundo num simples ato, colore-se.
Existe uma sinfonia própria aos meus ouvidos tamanha é demonstração de vida e de ‘recriação’. Eu sinto essa mudança em cada centimetro do meu corpo feito de carne e osso. É como se enfim eu fizesse parte de algo, da vida, do planeta. Me sinto conectado de um jeito simples. Sinto quando a terra chama a chuva em murmúrio lento. Ouço as cores que tomam conta do planeta após a chuva. Sinto o gosto de cada gota que cai sob na minha pele.
Esse jeito simbólico de ver o mundo me conserva momentos fiéis ao ver a chuva cair. Essa simplicidade que atua sobre a vida me torna por um momento Alberto Caeiro. Como que sem querer me permito brincar de heterônimos de outra Pessoa. 

*foto – Leco Vilela

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Pesto

Ando com tanta fome nesses últimos dias, uma larica sem fim, no fim das contas. Fome de tudo, fome de mundo. É como se de repente eu tivesse me dado conta de quão grande é o mundo e de quão pequeno sou eu, e nessa imensidão de mundo, não me sinto perdido, mas sinto fome, fome disso, sede disso. Quero comer tudo de garfo e faca, de colher, de mão. Tenho fome isso é fato e eu quero comer o mundo inteiro e dane-se a indigestão do dia seguinte, nada que um engov não resolva, ou eu boto pra fora, visceral talvez, mas real, sem dúvida real, a fome é real, é mais que suposição, que abstração, é real.

Será que alguém pode me ver um pedaço de mundo ao molho pesto? Porque se ninguém puder, não tem problema… Eu mesmo faço, nunca tive medo de mão na massa, não vai ser agora que eu to com fome que vou me fazer rogado, eu quero a poeira, eu quero a estrada, eu quero a vida que eu deixei fugir por todos esses anos, to aqui vivo, de peito aberto e saiba que se tu – vida – não vens, vou eu!

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Subway

… É! São Paulo sempre surpreende, sempre tem das suas, o transporte público então, com suas desgraças, onde o vagão do mêtro parece uma lata de sardinha que se abre a cada estação… muitas vezes melhora o meu dia.

“Hoje é sexta-feira dia 30 de Outubro de 2009, são exatamente 7h42 e nesse horário já fiz muitas coisas, o mêtro está parado o que me dá mais tempos para essa resenha.
Bom, hoje acordei cedo pois as 6h44 chegava à São Paulo um pedaço do Rio de Janeiro, no caminho para a rodoviária, prensado entre corpos na lotação que me leva até a estação tucuruvi do mêtro, começa a tocar uma música do Jack Johson e o senhor atrás de mim começa a rebolar ao ritmo da música, com sua bunda ligeiramente grande – irresistível não se deixar rir da situação, “coisas de cidade grande” , vai saber?.
Depois de encontrar meu pedaço do Rio, sigo para a faculdade. No mêtro em pé diante de mim, um casal de [d]eficientes mentais se beijam, brincam de cocegas, sentam no colo um do outro, sem o mínimo de puder de serem felizes, sem querer me pego a sorrir descaradamente e achando graça me senti parte dessa grande metrópole que por mais cinza, cimentada e com um mêtro com sérios problemas, pois parou novamente, bate e circula quente como um coração.
São Paulo pode sim ser a terra da garoa, do trem das onze, mas é muito mais que isso, que cimento, é mais carne, é vida, é amor em meio de tanta correria.”

Atenciosamente,
Leco Vilela
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