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Categoria: Momentos

Prece

E se um dia você acordasse e todos seus sonhos fossem verdades?
E se um dia você acordasse e todos seus sonhos fossem mentiras?
E se um dia você acordasse e todos seus sonhos fossem sonhos?
E se um dia você não acordasse?
 
Ao norte vontade 
Ao sul realidade.
A cabeça segue equilibrando o desejo e a veracidade.
 
Meu mundo não cabe aqui.
 
Sou esmagado pelo meus anseios
Sinto o tempo desacelerar.
 
Tempo é o que mais tenho e mesmo assim não freio
Talho meu caminho a força, desencadeio
Tempo, falta um tanto ainda… Eu sei.
 
Então entre cortinas vejo a vida
E percebo o mundo girar
Enquanto eu corro
Eu não saiu do lugar.
 
Preciso aprender a caminhar lado a lado com o mundo
Preciso aprender a caminhar lado a lado
Preciso aprender a caminhar de lado
Preciso aprender a caminhar
Preciso aprender
Preciso.
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Aquela Casa

No meio de um intenso labirinto feito de folhas verdes existe uma casa. Uma casa serena, cálida e calma. Ali dentro afastada de tudo e de todos, só é possível chegar após muito esforço.
Dentro da casa quem diria. Uma lareira e mensagens de boas vindas era acolhedor afinal aquele casebre antigo. Uma paisagem oposta aos espinhos e venenos postos do lado de fora, ao longo do labirinto. Nas paredes da casa quadros pintados e pregos ainda vazios. Uma música boa tocava ao fundo e em cima da mesa uma taça de vinho do porto para expressar o gosto do sujeito oculto.
Eram três quartos ao longo do corredor que se encontrava no final da sala, no primeiro brinquedos antigos, puídos, uns de madeira e outros de pano. Alguns estavam manjados do tempo, o tempo sempre deixa suas marcas pintadas em tom sépia. No segundo quarto uma cama apenas, o resto vazio, era larga de lençol branco e macio, ninho intacto e sem janelas, coisa essa que ainda precisava ser construída. No terceiro quarto uma alegria invadia, eram balões e confetes que minavam das mãos de pessoas sem faces.
A casa todo cheirava a chá com biscoitos, não era nem quente nem fria, era na medida certa confortável e aberta para o vento tocar por carinho levemente a pele. Era como um abraço de saudades após anos de distância ou o primeiro beijo de enamorados que soltam faíscas.
Não era lá uma casa muito engraçada, mas era tênue, leve e amada.
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O contador de nuvens

Foto por Leco Vilela

Ele andava distraído como quem conta as nuvens do céu, caminhava pelas ruas desertas de uma cidade cheia de vidas. O sol lhe batia leve no rosto transformando seus olhos em faróis castanhos a ilustrar seus passos. Um sorriso leve lhe dominava a face.


Andava com as mãos nuas a balançar como um pêndulo para fora dos bolsos. O movimento hipnotizava o olhar do outro. Este caído pela beleza dos faróis castanhos, se viu obrigado a seguir os passos daquele que o encantaram. Passos rápidos e respiração ofegante. O admirador hipnotizado alcançou o contador de nuvens através do toque, um leve toque nas mãos.

Recebeu o toque sem susto, olhou através do olhar de seu admirador e sorriu. Sorriu como se já conhecesse o toque que se fazia presente. Entrelaçaram os dedos e caminharam juntos pela cidade vazia.
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São Paulo

Foto por Leco Vilela

 
Existe alguma coisa em São Paulo que me expõe de uma forma suave, mostra minha história e cada história de sua longa vida.

Existe algo nesse ar, nesse vento. Talvez seja o dióxido de carbono misturado com o ozônio do fim da tarde, ou talvez seja só a minha pele que o vento toca diferente.

Imagina que cada janela acesa durante a noite tem sua história, seu conto, sua crônica. Eu imagino, e nesse exato momento uma mulher está fumando um cigarro, repousada na janela de um apartamento no centro.

São Paulo é terra de santo, mas com seu inferno particular, talvez seja essa a dicotomia que me agrade tanto, ou talvez seja só o vento que a minha pele insiste em sentir diferente.

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Uma boa história

Ele põe seus óculos com aro preto. Senta-se na frente do computador e começa o ritmado jogo de teclas. Ele pensa, estrala os dedos e rói a pele envolta deles.

A idéia precede o ato de escrever, é necessário uma idéia fixa, um ponto de interrogação, uma ponta interna que às vezes chega até a doer; então como quem não quer nada põe-se a escrever. Expressa-se.

Às vezes quem ajuda o ato é o silêncio, outras vezes a música se faz necessária. Cria-se um clima. Imaginem:

“gêmeos de alma correrem pelo pasto verde com o sol a fazer sombra em seus corpos ascendentes”.


E pronto você já tem um inicio, uma idéia, uma hipótese.

Agora é necessário chegar até o fim dela. Sem um final a história lhe incomoda por dias, ela pede para ser terminada, ela clama por uma conclusão plausível, veja bem PLAUSIVEL, não boa ou ruim, mas plausível. Uma história não é dicotômica, ela não briga entre o bem e o mau enquanto é escrita, ela simplesmente é o que os dedos fazem dela.

Algumas histórias surgem de cadernos com as canetas de pontas finas. As canetas de pontas finas são as minhas favoritas. Elas parecem correr pelo papel e às vezes escrever coisas que nem nos demos conta que pensamos, muitas vezes são mais rápidas que os dedos.

Enfim, ele põe seu óculos ao lado, esfrega os olhos, respira fundo e revisa o texto, uma, duas, três… Quantas vezes o texto lhe pedir. Corrige, arruma, tenta limpar as imperfeições e manter o coração pulsante do próprio texto, que é independente da sua vontade. Depois de escrito, o texto já não é mais dele. Depois de tudo isso feito, de toda essa história, pode-se ter a chance de ter uma boa “história” para contar.
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