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Categoria: Primavera

Cobre

Era uma tarde sem vento, as nuvens paradas pareciam algodão lá em cima. Buzinas, pássaros, motos e latidos. Fazia barulho, mas numa escala reduzida, como se todo o planeta tirasse um cochilo.

A dúvida pesava sua cabeça, não sabia ao certo para onde ir, o que fazer; estava parado em um tempo de espera e sua ansiedade o levava a loucura. Criava mundos e os destruí conforme esmagava o papel com suas mãos. As bolas, geometricamente imprecisas, cobriam agora boa parte do chão.

Queria ser um gênio, como aqueles que aos vinte e tantos faziam riquezas e renomes, aqueles que ganhavam prêmios sem, aparentemente, fazer esforço algum. Seus dedos corriam ligeiros a espera de uma aventura que não se constrói linearmente, mas só lhe restava o fino papel amassado.

Estava quente e o suor era inerente ao seu esforço físico. Sua pele tomava notas salinas, já estava sem camisas e com o pé nu a tocar no chão, mas mesmo assim seu corpo jorrava. O líquido que escorria por seus poros lhe dava um tom brilhante que ressaltava suas curvas e ângulos.

Silêncio. Frustrado se pós de pé em um pulo, tirou a única peça de roupa que o mantinha no mundo civilizado. Nu caminhou até o chuveiro e deixou que a água gelada caísse sob sua cabeça. Esperou que talvez aquela queda d’água também levasse seu medo, sua impaciência e por que não sua impotência, assim como levava o suor de seu corpo acobreado.
 

De pé e sem pressa se deixou banhar.

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Poderes estranhos dessa tal Primavera

O tempo em São Paulo continua louco e a cidade continua impermeável, mas ainda assim São Paulo continua com seu charme e sua classe cinzenta, ela continua a mesma.
As vezes paro pra pensar nessa beleza estranha que essa cidade tem, na paz que eu encontro no meio do barulho dos carros, no meio desse caos e pessoas no modo randomico, e por óbvio caiu na grande diferença entre Rio de Janeiro e São Paulo, agora com motivos mais pessoais pra isso, e sempre me pego a fazer analogias, comparações, suposições. A mais nova delas tem sido comparar Sampa como uma mulher moderna, que não para nunca, que tem filhos ou não, que tem maridos ou não, que vai pra luta e depois volta pra casa ou não; e o Rio de Janeiro como um homem, seu clima quente, seus segredos, suas omissões, seu bem viver, sua “preguiça” – no bom sentido é claro.
Pois é… Tipos bem diferentes de pessoas, mas ainda sim brasileiros, alias o que mais temos nesse país são outros países, se me permitem o jogo. Independente de Rio, Sampa, Aracajú, João Pessoa, primavera aqui no Brasil é primavera e os amores seguem loucos.

*Fotografia – Leco Vilela

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