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Categoria: Relacionamento

Vênus em Peixes


Lembro que quando era pequeno tinha mania de jogar a cabeça pro lado ou ainda de dar bananeira quando eu procurava alguma coisa e não a encontrava, eu olhava em lugares ilógicos como, por exemplo, encontrar o controle remoto dentro geladeira.

É engraçado relembrar isso, pois é um hábito que se manteve de forma discreta. Há pouco tempo percebi que mantinha esse jeito de ser, pois acharam engraçado eu jogar minha cabeça pro lado e olhar pra frente como se estivesse dando um zoom nos olhos. Era como se eu virasse um pinball de lado para a bolinha se desprender.

Em todo o caso esses pequenos hábitos loucos e já imperceptíveis para mim me fizeram entender que não existe uma busca por algo externo a você mesmo. É engraçado contradizer a ideia normativa de se ter um relacionamento, mas é real.

Não quero alguém que me complete, pois a metade de mim sou eu inteiro, sou e existo independente de outro ser humano, o irônico é que justamente essa percepção, que torna interessante estar com outro ser humano. Não se procura uma metade, vive-se com um inteiro.
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Maria

Maria tinha seus vinte e tantos anos, ela era esperta, descolada e andava livre pela rua. Seus óculos escuros lhe davam um ar descompromissada, quase que coloquial. Caminhava pela feira de artesanato em um domingo ensolarado.
Seu corpo com algumas tatuagens, vestia um shorts curto ao melhor estilo, foda-se você. Maria procurava algo entre as barracas, queria um presente, mas não tinha muito dinheiro para comprar, gastará boa parte com álcool e comida.
Ela era fotografa e tinha os olhos acostumados a uma beleza grega, púbere, embora o que gostasse mesmo era um corpo marcado, colorido e confortável. Queria o diferente e com isso era indiferente às investidas de seus ou suas modelos.  Maria era bonita em seu jeito, charmosa e um pouco tímida para começar uma conversa, mas se soltava fácil, isso era verdade.
Outra coisa importante a se dizer sobre Maria é que ela era virgem não praticante e, além disso, acreditava em sexo no primeiro encontro. Afinal gozar a vida era preciso e algumas pessoas simplesmente não voltam.
Mas voltando a feira de artesanato, lá estava Maria, caminhando quando viu um ciclista pedalando em sua direção. Estranhou e pensou se de fato era na direção dela que o ciclista corria, sim era. Teve medo de ser atropela, mas no mesmo momento viu quem pedalava, era um homem lindo, seu tipo, seu número.
O ciclista se aproximava em zoom e a cada quadro Maria o desejava mais, penso em sair da frente para não ser atropelada, mas sua única reação foi abrir as pernas. Ele freou ali, com as rodas entre suas pernas e a cabeça inclinada para a sua boca, ele sorrio.
Maria, a esperta e a descolada que andava livre pela rua, pensou que talvez fosse uma boa hora para tirar o Santo Antônio do copo d’água.
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Pronomes

Ele desejava Você. Ele, embora calado e sorridente, queria mesmo é ver Você sem roupa, de quatro e gemendo, enquanto Ele com a língua ia da nuca pra baixo.

Você ficava ali, sem tempo, correndo e morrendo aos poucos. Você sorria, e às vezes Ele imaginava que esse sorriso era só dele. Você ali parado com o coração no braço.
Ele só queria sentar com Você e contar as coisas de uma viagem a toa, beijar a boca, tirar a roupa e ver Você dormir.
Ele só queria comer Você e era só Você que Ele queria comer.
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Eles choram

Foto – Derek Fernandes

Ele corria pelo asfalto áspero da cidade, seu tênis puído pelo tempo já sabia o caminho. Correu como uma criança que foge do monstro que vive embaixo da cama. Sua boca soltava fumaça de ar frio.

Amassado no bolso de sua calça uma foto em preto e branco, um corpo suave delineado pela luz de uma grande janela. Nunca mais tocá-la. Ainda existe o desejo de salgar a boca entre suas pernas e no entanto, ele corria.

Talvez tenha corrido durante toda a noite, talvez ainda continuasse a correr. A camiseta de banda suada e em seu olho garoa.
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O Discodante

O post de hoje será dedicado ao Dia Mundial de Combate a AIDS
 
“Homem, mulher, gay, lésbica, hetero, bi e travesti, não importam as siglas. Ela não escolhe barraco ou residência, cor ou tendência e quem dirá credo ou prepotência.

Imprudência não é amar, imprudência é negar a existência. A sua existência. O caminho mais rápido para um fim é assumir o silêncio que cada célula do seu corpo grita. Imprudência não pode ser amar.

Nesse conto de fadas moderno o vilão é interno e imortal. A espada mágica não existe e Merlin se perdeu no tempo. O que fazer com os devaneios de uma vida? Nossa queda é eminente, a diferença é que nesse grande tabuleiro sua rainha está em cheque.

O dia segue e a noite chega. Veste sua armadura pra poder amar sem medo. Sem receio do veneno que escorre do teu corpo. Desarmado não temo o beijo. Ser discordante nesse caso é opção. Confiança de que meu corpo para você continue imaculado. Nossa troca de sentimentos não envolve seus fluídos, as partes eternas que não se unirão sobre o abraço vigiado dela. Ela existe, assim como a fruta mordida do seu passado. Sua saliva ácida queima minha pele e mesmo assim te quero. Bomba relógio. BOOM
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