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Categoria: São Paulo

Mendoza


Ele balançava a taça de vinho como quem conduzia uma dama pelo salão. Fred Astaire por um momento, pelo menos foi o que pensou. Segurava a ‘moça’ com vigor e segurança.
Ele observava as gotas que escorriam por aquelas curvas. Levava-a até a boca e embriagava-se um pouco mais. Aroma de frutas com notas de chocolate.
A música no salão se espalhava, seu pé subia e descia e seus olhos garoavam conforme sua bochecha se enrubescia pelo malbec de 2011.
Lembra-se de Allen Ginsberg? Pergunta para si e sorri.
A banda pausa enquanto ele escreve.
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Eles choram

Foto – Derek Fernandes

Ele corria pelo asfalto áspero da cidade, seu tênis puído pelo tempo já sabia o caminho. Correu como uma criança que foge do monstro que vive embaixo da cama. Sua boca soltava fumaça de ar frio.

Amassado no bolso de sua calça uma foto em preto e branco, um corpo suave delineado pela luz de uma grande janela. Nunca mais tocá-la. Ainda existe o desejo de salgar a boca entre suas pernas e no entanto, ele corria.

Talvez tenha corrido durante toda a noite, talvez ainda continuasse a correr. A camiseta de banda suada e em seu olho garoa.
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Cinza

Leco Vilela

Não existe mais contraste entre os prédios e o ar se torna visível de tão pesado. Essa nuvem cinza que domina o inverno paulista sufoca.

São Paulo nunca foi cheia de cores, mas no inverno seco a cidade se reflete anêmica. Quando chega à tarde, o Sol só faz doer os olhos. Não sinto minha pele áspera aquecer.

Não existe horizonte nas manhãs do inverno paulista. 

Existe o motor e a fumaça, a velocidade e o concreto, o vertical e o cianeto. 

Nem os pássaros compõem melodias. Orquestras.

E mesmo entre a pele arrepiada pelo frio e a morte que se apresenta nas folhas caídas no chão, tem um Ipê que pinta em cores a tela cinza.
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Ontem


Caminho pelo asfalto úmido de uma São Paulo submersa, a luz amarelada do poste faz contraste com as ondas que as gotas que caem dos fios, provocam em uma poça.

Do meu lado direito a igreja escura de janelas claras e vitrais coloridos se mostra imponente. A estética de uma cultura banhada no fogo.

O vento gelado corta meu rosto e infla em balão a toca do meu casaco. Só sei dançar com você, isso é o que o amor faz. Meu fone enterrado nos tímpanos.

Jeans rasgado, e agora molhado, aperta a minha pele. Caminho com passos largos e explodo poças quando possível. Noite fria de inverno.
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Chuva Ácida

Ainda me pego a pensar na chuva que cai firme no chão. Existe uma variante quântica na forma como as gotas tocam meu rosto marcado por ângulos fortes.

Não sei ao certo o tamanho da mágoa que se acumula em meu peito, mas sei que boa parte se foi com correnteza que verteu das ladeiras asfaltadas. Em sonetos ácidos minha vida se resume e se expande. Desafio a física a cada respiro.

Louco, poeta e artista. Eis me aqui a contemplar o choroso céu se esvaindo no verão de pedra que só essa terra já batizada de garoa proporciona.

Rios que se enchem de desespero, cachoeiras que quedam com os sonhos de pau-a-pique e papelão. Vivo numa tangente que consome homens inteiros, reduzindo-os a um choro que rasga a pele suja.

Lá se vai mais uma vez a chuva e com ela tudo que lhe cabe levar. Aos excessos que escorrem pela sarjeta áspera da capital.
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