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Nome da Coisa Posts

Aquela Casa

No meio de um intenso labirinto feito de folhas verdes existe uma casa. Uma casa serena, cálida e calma. Ali dentro afastada de tudo e de todos, só é possível chegar após muito esforço.
Dentro da casa quem diria. Uma lareira e mensagens de boas vindas era acolhedor afinal aquele casebre antigo. Uma paisagem oposta aos espinhos e venenos postos do lado de fora, ao longo do labirinto. Nas paredes da casa quadros pintados e pregos ainda vazios. Uma música boa tocava ao fundo e em cima da mesa uma taça de vinho do porto para expressar o gosto do sujeito oculto.
Eram três quartos ao longo do corredor que se encontrava no final da sala, no primeiro brinquedos antigos, puídos, uns de madeira e outros de pano. Alguns estavam manjados do tempo, o tempo sempre deixa suas marcas pintadas em tom sépia. No segundo quarto uma cama apenas, o resto vazio, era larga de lençol branco e macio, ninho intacto e sem janelas, coisa essa que ainda precisava ser construída. No terceiro quarto uma alegria invadia, eram balões e confetes que minavam das mãos de pessoas sem faces.
A casa todo cheirava a chá com biscoitos, não era nem quente nem fria, era na medida certa confortável e aberta para o vento tocar por carinho levemente a pele. Era como um abraço de saudades após anos de distância ou o primeiro beijo de enamorados que soltam faíscas.
Não era lá uma casa muito engraçada, mas era tênue, leve e amada.
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Uma carta para “O” macho

 

Vejo homens perdidos entre suas próprias espadas, lançando tiros de espingarda, cuspindo no chão. Ser macho é isso então? Um punhado de feições rudes e ásperas desilusões.

Ser homem é isso então? Pois então, sou homem de contramão. Não preciso ranger meus dentes para me mostrar valente.

Tirar seu sangue a murros, me expor em alguns muros, suar e estar sujo. Ser pai é isso então? Fugir da mãe pra puta e depois voltar correndo sem ter coragem de dizer qual mulher que quer na mão. Ser ômi é isso então?

Arrancar os dentes de algum demente, partir a foice corações como quem estripa uma mulher. Seu pau serve pra isso então?

Aos homens brasileiros, machitas, violentos, desrespeitosos e normativos. As mulheres brasileiras que se permitem o soco sem requerer justiça e espalha o orgulho de um filho macho pelo mundo. Aos pais que sangram as doenças entre as coxas de tantas outras. As mães que mostram as suas filhas as sete formas de se ter um homem que não lhe respeita, mas te alimenta.

Ao povo que assiste a este massacre calado, que não se levanta contra as ondas sangrentas do machismo tupiniquim. A população que permanece calada e assiste sentada as mortes frias da televisão.

Não preciso de pinto, não preciso ser homem, não preciso estar macho… Me conjugo em outro verbo caso seja necessário.

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Dora

Ela usava uma saia cumprida a lhe contornar os quadris. Seus cabelos caindo em fitas entrelaçavam-se nos meus dedos largos, eu respirava seu cheiro de orvalho e salgava a boca a cada beijo.
Uma luz ascendente contornava sua pele lisa com uma pelagem rala e o contorno de sua boca vermelha marcada a giz de cera e papel de menino.
Corria, sorria e suava. Vi-te passar ainda menina na rua e hoje mulher te ponho nua. Doce feitiço, tênue olhos de ametistas. Fala-me segredos leitosos no canto da boca. Respiro e me calo.
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Carta para lua cheia

Baia de Guanabara – Leco Vilela
Era meu corpo inteiro que te beijava, não era só eu. 
Não era só sexo, não era só cio e não era só nata. 
Teu beijo tinha cheiro e cor de mar azul.

Teu toque malandro com gosto de uva explodindo na boca.
Teus olhos sacanas me despindo calados.
Teu cheiro suado de garoto maroto, safado.

O problema foi esse, o beijo que me virou do avesso me entortou o braço, me cegou inteiro; foi o mesmo beijo que me encheu de vida.

Pergunto-me como aquilo que me abriu os olhos pode cala-los?

Não foi por medo que subi no cavalo, percebi que não existiria ao teu lado.
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Macarronada

Alguns sábados caracterizados de domingo se escondem nos marasmos de fevereiro. Aqueles corações se suportam entre olhares e sonatas, suspiros e pastas. Abrem-se sorrisos amarelados enquanto o vinho, a cerveja e o café correm pelos lábios ácidos entorno da mesa.

A conversa se estica como a linha do café a escorrer no copo. Lembranças sem sotaque são expostas a portuguesa. As risadas quedam das bocas marcadas pelas histórias de uma vida inteira. Respiro entre os diálogos pensando nas palavras tortas que escorrem pelos dedos.
Acho engraçado essa dinâmica de entes próximos, as conversas soltas ao sugo. Duas faces que se colam, braços que se cruzam e o dedo estancado a chamar o elevador.
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