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Nome da Coisa Posts

Donka – Uma Carta a Tchekov

“Muitas vezes, quando vemos um homem sentado num bar, com uma folha em branco e um café ao lado. Achamos que ele não está fazendo nada. Mas erramos, nesse silêncio ele cria, cria sonhos, cria mundos, cria vidas…”
E assim como uma carta que nunca foi escrita o espetáculo ‘Donka – UMA CARTA A TCHEKOV’ encanta por sua simplicidade. Repleto de efeitos visuais e sonoros, a peça ganha ritmo com os clowns que permeiam durante todo o espetáculo. Um jeito de se fazer arte.
O espetáculo só fica em cartaz até esse domingo no Sesc Pinheiros. E até lá, tenho certeza, irá conquistar muitos outros corações.
Vídeo Divulgação
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De olhos bem abertos

‘De olhos bem abertos’ é a tradução literal do filme Pecado da Carne (Eyes Wide Open), dirigido pelo cineasta israelense Haim Tabakman.
O filme é repleto de costumes e tradições judaicas ortodoxas. Com um tom calmo e monocromático o cineasta mostra mais do que a relação proibida entre pessoas do mesmo sexo, ele mostra a proibição das relações em nome da religião. Claro que entre Aaron e Ezri existe o agravante da homossexualidade, mas ambos os casais da trama são obrigados a abrir mão de seu amor em nome da sociedade em que vivem.
Pensei muito sobre o por que da versão brasileira ter escolhido esse título ao invés da tradução literal. Li algumas críticas sobre o filme, que acabam por ilustrar a resposta das minhas perguntas. O título ‘Pecado da Carne’ se consolida a partir do momento que vemos o filme apenas pela ótica sexual vivida pelos protagonistas, a vida num ambiente hostil e de radicalismo religioso.
Mas um fato em todo o filme me chamou a atenção, um acontecimento fora do eixo principal da trama, o romance entre Sarah e Israel. Assim como Aaron e Ezri, ambos são proibidos de viver seu romance.
E por pensar que esse filme mostra mais do que o pecado da carne cometido, eu acredito que o melhor título fosse a sua tradução literal. Afinal manter os olhos bem abertos acaba por ser uma grande lição.

Mas e você? O que você optaria? Viver sua vontade individual? Ou viver a vontade do coletivo?… Ezri fez a sua escolha… Aaron fez a dele… Sarah não teve nenhuma escolha.

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O Doce Cheiro da Chuva

Existem muitas coisas que me fazem feliz no mundo, talvez a maior delas seja quando chove e logo após o sol se faz presente. E então o mundo num simples ato, colore-se.
Existe uma sinfonia própria aos meus ouvidos tamanha é demonstração de vida e de ‘recriação’. Eu sinto essa mudança em cada centimetro do meu corpo feito de carne e osso. É como se enfim eu fizesse parte de algo, da vida, do planeta. Me sinto conectado de um jeito simples. Sinto quando a terra chama a chuva em murmúrio lento. Ouço as cores que tomam conta do planeta após a chuva. Sinto o gosto de cada gota que cai sob na minha pele.
Esse jeito simbólico de ver o mundo me conserva momentos fiéis ao ver a chuva cair. Essa simplicidade que atua sobre a vida me torna por um momento Alberto Caeiro. Como que sem querer me permito brincar de heterônimos de outra Pessoa. 

*foto – Leco Vilela

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A Velha Senhora

Seus cabelos já grisalhos sacudiam no vento, enquanto desferia golpes de facão nos galhos da grande árvore.

Seu corpo de muito se assemelhava ao da grande árvore. Seu rosto marcado pelo tempo e os vincos largos que corriam o tronco. Os pés ásperos e cheio de fisuras e a raiz que docilmente invade a terra. As duas largas e fortes aparentavam agüentar o peso do mundo. Seus corpos cheios de espinhos para afasta os inimigos, mas com a seiva doce para nutrir seus filhos.

O ato da poda, pela senhora, beirava o genocídio. Tamanha era sua semelhança com a grande árvore.

E mesmo assim, repetidamente ela atingia os galhos com seu facão. Constantemente. Pouco a pouco os galhos caiam assim como o suor do seu rosto. As folhas dominavam o chão da velha senhora.

A poda, o corte, o suor, a senhora. Tudo, exatamente tudo, parte do mesmo esquema, do mesmo esboço de um menino.
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A Single Man – Direito de Amar

Sempre detestei as traduções de títulos para o português. Sempre pensei neles como nomes próprios que não devem ser alterados, mas no caso desse filme a tradução faz todo o sentido.
O primeiro filme de Tom Ford chegou às telas já como um prêmio no Festival de Veneza e uma fortíssima indicação ao Oscar 2010 de melhor ator. A estética, o corte, a moda, claro que tudo isso faz parte da visão desse diretor. Com um figurino impecável e uma estética geometricamente estudada o filme mostra detalhes sutis e simples da vida do personagem. 
A tela escura logo no inicio, música instrumental, um ótimo jeito pra se começar. E o filme roda, monocromático, pausado. Com o tempo e com a percepção de George, personagem central da trama, o mundo ganha cores fortes. Confesso que para um sinesteta como eu, é extremamente agradável ver manifestações claras dessas nuances se manifestando. É o cachorro que cheira a torrada com manteiga, a secretária que lembra um perfume. E de repente no meio do Banco aparece uma Alice, não que ela tenha esse nome, mas meninas loiras com roupas azuis são marcantes demais para mim.
A arma na mão, a toalha no chão, o destino incerto, um banho de mar, novos olhos. Tom Ford consegue carregar o espectador com delicadeza e fala sobre perdas, novos começos e estagnação. Concerteza um filme a ser assistido, ou melhor, a ser dedicado.
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