Num dia você está pregando pregos na parede, escolhendo móveis para ocupar os espaços vazios e no outro suas coisas estão em sacos e caixotes na calçada e anos de um relacionamento se fecham no porta-mala de um carro.
As mãos se separam, as bochechas se molham, o coração aperta.
Após dividir minha vida com alguém durante tanto tempo e ter que seguir meu caminho sozinho, o pior dia pra mim passou a ser o domingo, silencioso e tedioso domingo. O relógio corre devagar demais e a cada minuto uma nova armadilha se apresenta.
Ressignificar esse dias vai levar mais tempo do que eu imaginei.
Você sente falta de se deitar no sofá e olhar a janela enquanto pessoas brincam na quadra da pracinha a frente, sente falta dos quadros que não foram pendurados, do espelho do banheiro, do jeito que a água do chuveiro caia no seu corpo. Não, não são simples saudades de objetos, são saudades do tempo que foi dedicado, do carinho que foi pensado para cada um daquelas bugigangas.
Saudade de chegar em casa e ter com quem conversar, mesmo sabendo que aquela amizade pode nunca mais voltar a ser.
Com a distância você aumenta o volume das suas vontades que a muito foram abafadas pela esperança da reconciliação e vai percebendo o quanto tu se sacrificou, cedeu, engoliu, pra tentar ser feliz. E não importa quanto as pessoas digam que tudo vai ficar bem, você segue mal, o que não quer dizer que você não irá sobreviver, muito pelo contrário.
Sabe quando você quebra a perna e fica mancando, mas com o passar do tempo isso torna-se o normal? E quando você tira o gesso e em menos tempo ainda você percebe o padrão de normalidade mudando de novo?
Só assim pra entender que normalidade não é um conceito sólido.
Você se sente sozinho, você se sente angustiado e até um pouco diminuído. Você acha que todos os teus amigos te olham com aquele olhar de “coitado”, mesmo que não o façam, você ainda acha. Você se culpa por não ter sido mais forte, mais paciente, mais tolerante, que talvez se tivesse esperado um pouco mais as coisas teriam se acertado. Tudo isso ao mesmo tempo que você se sente livre, que entende que deu o seu melhor.
Terminar uma história nunca é fácil, fácil mesmo é terminar um texto.
*** Texto postado originalmente em – http://www.welove.com.br/separacao/