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Tag: chuva

Sobre uma noite tranquila de chuva

Era uma tarde, quase noite, chuvosa. Cervejas, conversas, música de pé de orelha e muitos sorrisos. Era um bom sábado de se passar assim, solto, leve, deixando as preocupações voarem entre as risadas em direção a rua onde o vento dissolveria aquele peito apertado.

Sentado na janela um leve toque no braço indicava um sinal de proximidade recém construída. Eram assuntos paralelos, mas o toque se fixava, como que a mão entrelaçada com força, que soa a palma e endurece os dedos. Ninguém queria abrir mão daquela sensação. Daquele carinho inconsciente mas que deixava a consciência altiva e querendo mais.

Beijos, carícias, respiros no cangote, aquele gemido calado pra não escapar pela porta do quarto. Tu-do re-su-mi-do em um sim-ples to-que.

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Bento

Era uma manhã de sol que virou tarde de chuva, a brisa verde saia de sua boca e se misturava com as cores mistas que só um dia como esse oferece.

Bento estava na sacada contemplando a dança entre o sol e chuva que se formava. Enquanto se arrumava pra romper o casulo da manhã e por os pés na rua. Chamou um carro.

Tamanha foi sua surpresa ao entrar e ouvir os primeiros acordes de My Funny Valentine do Sinatra. Por um minuto achou que sua vida tinha se tornado um musical hollywoodiano, em que ele e o motorista faziam um dueto com a banda ao fundo.

O carro ia depressa enquanto Bento e o motorista trocavam figurinhas sobre cantores de outrora. Dia incomum, pensou Bento (e o motorista também).

Desceu em frente a um café com a chuva já tocando o chão. Pediu um chocolate quente, uma água fora do gelo e escreveu em seu celular uma história, uma reprodução lúdica do dia que teve até o dado momento. Chamou seu protagonista de Pedro.

Ao terminar sua escrita encostou a boca na taça de chocolate, que ainda estava quente.

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Eu sou a chuva

Queria que a chuva limpasse meus olhos e me fizesse enxergar dentro de mim um caminho. Queria poder caminhar numa rotina sem dramas e tramas, mas parece que Deus só me deu dúvida.
Onde estar? O que fazer? Como escrever? Estou farto dessa névoa que acomete minha visão, catarata que turva minha estrada.
São tantos caminhos.
Cabe-me a observação de que até a maior estrela explode, brilha e se apaga. E mesmo sabendo disso, não me acalma o peito acelerado.
Queria a certeza da árvore que mesmo podada cresce seguindo seu rumo, enquanto os homens se iludem que sua importância é tal que as plantas não existiriam sem eles, zeladores do pouco verde que deixaram.
Eu vejo a teia de possibilidades pelas linhas da minha mão áspera, destinos cruzados e amores rasgados.
Noto em mim a imaturidade da negação, nego-me o dever de aprender a me poupar, escondo de mim mesmo o caminho certo pra sair dessa adolescência monetária.
Eu sou minha própria chuva, minha catarata e minha dúvida.
* Imagem do espetáculo Donka – Uma Carta para Tchekhov.
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