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Autor: Leco Vilela

Poema

Eu tenho procurado a poesia em cada esquina e talvez esse seja meu erro trágico. Poesia não se encontra em cada centímetro de rua, essa demonstração de si através das palavras, não está somente em uma parede branca e lisa.

Existem concretos tortos que abrigam um número infinito de verbos bonitos para ser mostrado. Ainda há aquele muro escuro e isolado que entre seus tijolos guarda o ritmo leve e a cadência áspera de um bom poema.

É incrível a capacidade humana de enxergar sua própria poesia em pessoas inóspitas. A capacidade de se perceber projetor é um degrau a mais na escala do tempo, espero por isso agora.

Aguardo também pelo dia em que enfim encontrarei substantivos com gosto de mar, não meus, mas  sim aqueles que reverberam leve por cada poro de um corpo sem sexo.

Enquanto esse dia não chega, me contenho com os livros, o vento e a grama molhada.
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Paira

Eu gostaria de falar sobre o que se passa dentro de mim, sobre minha infância gritada, sobre meus sonhos confusos, sobre minhas coisas espalhadas. Existe um silêncio em mim.

Quando me olho no espelho e a dúvida paira pelos meus olhos e o reflexo turva com a minha respiração. Existe uma sombra do outro lado de mim, meu avesso, minhas loucuras.

Eu tenho caminhado cansado por entre as ruas, cantando alto aquelas músicas de chuva e bebendo vinho pra poder dormir. Minha alma inteira sem saber pra onde ir.

Minha palavra cala antes mesmo de existir. Estou seco de palavras e simplesmente, não sei pra onde ir.

Falta-me o ar.

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Noite

Noite, luz de neon entrando pela janela. Lá fora os saxofones gritam como gatos no cio anunciando o coito. Ela tinha um cabelo curto e negro, uma lua minguante tatuada no pescoço e seu corpo nu tingido pelo rosa e azul do neon lá de fora. Sua vagina, lisa, pulsava a cada acorde que entrava pela janela, ela estava úmida.

Ele tinha barba rala e cabelo bagunçado, olhos verdes que pareciam acender como um farol durante as noites quentes de verão. Alguns pelos saltavam de seu peito e o caminho da felicidade findava em sua pica de 22 cm já dura.

Beijaram-se, lamberam-se, sugaram-se. Seus corpos se entrelaçavam e se moviam em uma dança forte e promíscua, passos aos moldes do diabo e com deus olhando entre os dedos. No enrolar e desenrolar dos corpos, a garota mostrava a eficácia de um fio-terra. O garoto urrava enquanto ela sugava seu pau com o dedo em seu rabo, ele involuntariamente rebolava.

A garota tingida de rosa e azul abriu a gaveta pega uma sinta caralho e vestiu. Ele não esperava por isso, mas o tesão naquela momento era tanto ou talvez fosse o vinho que tomaram e que começava a fazer efeito, pois sua única reação foi erguer as pernas em frango assado enquanto dizia um baixo, porém articulado, vem.

Ela lambuzou o cu dele de lubrificante, enquanto enfiava o dedo devagar na intenção de abrir caminho para sua pica de plástico. Pegou-lhe as pernas e meteu enquanto ele a olhava encantado e segurava o grito de dor na garganta. As estocadas começaram devagar e aos poucos já encontravam um ritmo forte e intenso, ele urrava sentindo algo que nunca pensou existir, seu pau estava duro latejava, as veias se erguiam e sua pele inteira arrepiada gorjeava.

À noite, o saxofone, o neon, a pica, o pau, o ritmo, os pelos, o cabelo curto, a lua tatuada, a barba, o deus, o diabo, os seios, os olhos, a cama, o mundo naquele momento gozava e urrava grave.

Beijaram-se úmidos e gozados recuperavam o fôlego enquanto os corpos já pediam mais.


*Texto produzido para a Revista Rosa.
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Adam


Às vezes quando eu andava com nuvens escuras sob minha cabeça, atravessava a Lima e Silva e já na esquina da república um sorriso se formava, parece que meu corpo ia se felicitando conforme aqueles acordes iam entrando.

Adam tinha o poder de me fazer sorrir, mesmo quando eu estava do outro lado da rua e distante cumprimentava-o enquanto ele tocava. Escocês e seu violino, ah! Vocês deviam de ouvir quanta alegria se transmitia e como o dedo dele corria, era contagiante, eufórico e eu simplesmente sorria.

Nunca disse isso àquele grande homem, de seus quase dois metros de altura, loiro, magro e de cabelo bagunçado. Adam, o violinista, não está mais por aqui, tomou outro rumo, foi para outro lugar. Deixando-me com a minha grande falha que foi nunca dizer a ele o quanto a sua música me fazia bem.

Conversamos muito uma noite dessas, moramos até mesmo sobre o mesmo teto algumas semanas, então eu escrevo isso e espero que um dia ele saiba que sua arte ainda reverbera em mim. Não sei se um dia ele lerá este texto, então só me basta acreditar no poder da palavra.

Your talent, your music, your art make something smile on me and for that I just can say thank you a lot.

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Ir

Existe algo mágico na chamada distância. Hoje, pela primeira vez em muito tempo, eu respiro com calma. Foram tempos agitados, de muita luta e extrema paciência. Tornei-me menos orgulhoso e mais admirador de mim e dos outros.

Existem caminhos que não precisam ser traçados, mas isso só se aprende com o tempo, e é pelo tempo que outros devem aprender. Como diz um dos meus amores, até para ter calma, é preciso calma.

Tenho estado distante de todos em muitos sentidos, mas nunca estive tão perto de mim. O mundo ao meu redor dança e brinca na frente dos meus olhos e cabe a eu aceitar e entender aqueles encontros inesperados. 

Amigos distantes que se chamam irmãos, irmãos próximos que não são amigos.


Existe algo de mágico na distância. Ela te bate, te maltrata, te sova… Mas te ensina, te fermenta e te transforma.

Não tenho mais medo da estrada.

*aos meus mais queridos e sinceros amigos.

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