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Autor: Leco Vilela

Sueli

Sueli era uma mãe de família. Casada com uma filha ainda pequena, Sueli vivia sua vida como todos nós, um dia após o outro. Seu ofício era próximo de casa e fazia natação, quando possível.

Trabalhava num escritório de design, era um ambiente moderno e caótico, um cabaret revisitado. A parede de tijolos ao fundo valorizava um grande neon rosa que dava profundidade aos objetivos e as pessoas presentes.

Um belo dia, indignada com a situação política do país, Sueli desabafou com seus colegas de trabalho sobre os entraves socioeconômicos que tanto a afligiam. Entre falas complexas, Sueli respira profundamente e diz:

O pior vocês não sabem, descobri que Otávio meu marido, pai de minha filha… Tem tendências de esquerda!

Enquanto solta o peso dos ombros, joga para trás do ombro esquerdo sua echarpe a fim de se proteger do golpe cômico do destino. Deposita a mão sobre o colo coberto e mais uma vez respira indignada.

Sueli era assim, uma mãe de família excepcional.

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Sobre uma noite tranquila de chuva

Era uma tarde, quase noite, chuvosa. Cervejas, conversas, música de pé de orelha e muitos sorrisos. Era um bom sábado de se passar assim, solto, leve, deixando as preocupações voarem entre as risadas em direção a rua onde o vento dissolveria aquele peito apertado.

Sentado na janela um leve toque no braço indicava um sinal de proximidade recém construída. Eram assuntos paralelos, mas o toque se fixava, como que a mão entrelaçada com força, que soa a palma e endurece os dedos. Ninguém queria abrir mão daquela sensação. Daquele carinho inconsciente mas que deixava a consciência altiva e querendo mais.

Beijos, carícias, respiros no cangote, aquele gemido calado pra não escapar pela porta do quarto. Tu-do re-su-mi-do em um sim-ples to-que.

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Ele se chamava Daniel

Ele se chamava Daniel. Logo que nasceu, sua mãe trocou de alma com ele, deixando um marido e mais dois filhos. Seu pai era militar, tinha nome de militar, José era o nome dele. Seus irmãos Antônio e Miguel eram um caso à parte. Sua família tinha um sobrenome tipicamente brasileiro, da Silva. Viveu durante nove anos num regime militar, logicamente dentro de um quartel. Exatamente no seu aniversário de nove anos seu pai resolveu se aposentar e se mudar. E foi ali, numa vila tradicional de São Paulo, que ele viu aquilo pela primeira vez; ele já tinha visto fuzis, revólveres, metralhadoras, bazucas, mas aquilo nunca.

Tinha formato humano, mas em miniatura, algumas lãs pareciam formar uma espécie de cabelo, aquilo que talvez fossem os olhos eu conhecia, botões de camisa, estampava um sorriso magnético com bochechas rosadas, usava uns trapos como vestimenta, aquilo eu já tinha visto, as filhas dos generais usavam aquilo, pra ser sincero os trapos e os vestidos eram bem parecidos.

Era uma boneca, algo comum, mas que não fazia parte da sua realidade. Talvez por isso lhe chamou tanta atenção. Curioso como sempre, nem esperou pra pegar aquilo. Naqueles nove anos ele imaginava que tinha sido a pior ideia que ele já teve na vida.

Uma semana depois da boneca, meu corpo ainda doía, eu ainda tinha marcas no meu corpo, mas papai sabia muito bem como deixar marcas sem que os outros vissem. Diria mais, aqueles olhos sem brilhos… o que ele fez comigo não deve ter sido nem um terço do que ele era capaz, por isso no fundo eu me sinto grato ao papai.

José já era capitão há muito tempo, Miguel e Antônio pareciam idolatrar a carreira militar do pai. Miguel tinha dezessete, estava prestes e ansioso para entrar no exército, Antônio tinha catorze, capitão de tiro ao alvo júnior e o melhor no “polícia e ladrão”. Ele, Daniel, com os seus nove anos, sabia atirar e carregar uma arma tão rápido quanto Miguel e corria como o vento. Esses foram os brinquedos desses irmãos. Essa foi a infância deles. Moravam numa pequena vila no bairro da Penha em São Paulo.

Os meninos jogavam bola na rua e Daniel olhava as meninas brincando com aquele objeto que tanto lhe chamou a atenção, isso foi motivo pra mais uma surra. Antônio gostava de ver Daniel sendo surrado, um estranho prazer, um brilho no olhar, algo que garantia a Daniel momentos fiéis para pregar peças em Antônio. Miguel era e é o que chamamos de machão, corpo definido, marrento e vivia mentindo sobre suas conquistas, porque afinal isso é o que define um bom machão, falar muito e meter pouco. E assim se foram os anos, nessa brincadeira doce e cruel de sobreviver.

Eu tinha 15 anos quando eu vi aqueles olhos pela primeira vez, eram vivos, castanhos da cor do mel, o que fazia minha boca salivar, sem eu nem mesmo saber por que, mas eu imaginava, as curvas daquele corpo me garantiram minutos fiéis no banho, eu delirava, sonhava com aquele corpo, aquela boca latina, que falava e falava, mas de uma forma quente que me arrepiava, a voz rouca que penetrava meus ouvidos… Foi aí que eu comecei a me interessar por futebol.

Com 15 anos, Daniel e o time foram campeões do Torneio de Futebol do bairro, ele e os Olhos de Mel. Foi uma festa nesse dia, José da Silva, estava feliz, Miguel e Antônio estavam felizes, Daniel nunca tinha visto isso antes, ficou feliz, seu pai resolveu fazer uma comemoração em sua casa em homenagem à vitória, a festa acontecia dentro e fora do banheiro, Daniel e os Olhos de Mel se descobriram.

Papai nunca soube que foi naquela festa que eu perdi o cabaço, logo não imaginava com quem, o que até foi bom, porque eu não teria sobrevivido à fúria de papai, Miguel e Antônio juntos, não naquela época, agora eu estou mais forte, nós crescemos, aprendemos a largar da barra da calça, a viver nessa realidade crua que atualmente nos persegue em todo canto, é eu estou mais forte, mas eles ainda me assombram.

Assim foram os 15 anos de Daniel, entre peladas e escapadas pro banheiro, uma vida saudável e não muito diferente da população brasileira. Segredos à parte, eles se gostavam e se amavam como dois adultos famintos, já não era mais descoberta, era só prazer, dentro daquela pequena vida que tinham isso era a fuga para algo maior, um mundo de visão turva e gemidos forçadamente baixos, faziam de tudo, pelo menos de tudo que sabiam naquela idade, nesse mundo particular onde 5 minutos no banheiro já era o suficiente pra um sorriso eterno até o sono chegar.

Foi assim até os terríveis 18 anos. Olhos de Mel foi cursar Artes Cênicas em Campinas enquanto Daniel ficava aqui trabalhando pro pai, que tinha aberto um açougue, e cursando Administração na PUC. Seu pai estava orgulhoso do filho, mas o filho não estava orgulhoso do pai, Daniel queria ir pra Campinas, estudar Filosofia longe de tudo e perto de um só, mas Daniel cursou Administração na PUC. Miguel já tinha voltado do exército, mas não conseguiu seguir carreira militar, o que garantiu um mau humor daqueles que têm os sonhos perdidos, mas ele compensará sendo condecorado internamente como o PM mais violento do batalhão. Antônio, esse é um caso à parte. Como já disse antes, era o melhor no “policia e ladrão”, e era assim a sua vida agora; viciado nas meninas mais conhecidas da época, cocaína e heroína; roubava pra se garantir e era protegido por José que forçava Miguel a esquecer das coisas quando Antônio estava envolvido, Antônio foi sempre o melhor em “polícia e ladrão”.

Eu me lembro do papai falando que, por mais que os tempos fossem outros já estava na hora de encontrar uma namorada. Eu dizia que não tinha paciência pra isso e ele sorria dizendo que mulher realmente não era fácil, mas que na cama… Logo se via que ele não conhecia os Olhos de Mel, mas não demorou muito arranjei uma namorada, ela se chamava Fernanda, cursava advocacia, e era boa nisso, linda ela, loira, cabelos curtos, qualquer um teria amado ela como nunca, eu amava a força dela, graças a ela conheci muita gente, gente que mudou minha vida.

Fernanda era amiga de Daniel, eles se amaram mais por curiosidade dele e vontade dela. Ela sabia do amor de Daniel, mas sabia também que só cartas não ajudavam, ela tinha que levá-lo até ele, ela gostava de resolver problemas, bravejava sobre as injustiças do mundo, sobre o regime em que vivíamos, era a consagrada Ditadura. Daniel até então não percebia diferença, porque pra quem sempre viveu preso, a prisão é a liberdade.

Fui pra Campinas num sábado, disse ao papai que ia viajar com a Fernanda. É o velho estava feliz, me comprou um pacote de camisinha, que eu fiz questão de usar quando o encontrei. Mas, como eu já sabia, não ia durar muito, domingo eu voltei, Fernanda estava alegre e contente, mas o motivo eu não sabia, fiquei trancado num quarto o fim de semana inteiro, depois ela me contou que tinha conhecido uma turma legal, com idéias legais, e eram mesmo. Afinal encontrar comunistas é sempre bom, dizia ela. Mas o fato é que eu nunca tinha me sentido tão livre, eu tinha que viver, eu tinha que viver sem meu pai.

Daniel se mudou no segundo semestre do curso, foi morar com Fernanda e alguns companheiros. José ficou triste no momento, afinal, com Antônio preso e Miguel trabalhando, só sobrava Daniel em casa. José não admitia, mas amolecia cada vez mais. Daniel não tinha nada, era essa a regra da casa, ninguém tinha nada, mas todos tinham tudo, mas os LPs ele escondia, afinal não é sempre que encontramos Bessie Smiths num sebo. Essa grande negra dama era velha conhecida de Daniel, foi um presente dos Olhos de Mel, ele dizia que, como ela, eles tinham que ser fortes, lutar para serem felizes juntos ou não, porque no blues tudo pode acontecer.

 

A vida boêmia conhecia agora Daniel, já sem hora pra chegar e com um trabalho numa loja de discos, conhecia cada vez mais a liberdade, conhecia também a cevada, entre outras coisas, vivia num mundo à parte, conhecia atores, cantores, filósofos, artistas, advogados. Sempre que dava ia para Campinas e Fernanda ia junto.

Eu nunca esquecerei Campinas, que se dane Paris, pois meu amor estava aqui’ – era a frase que estava escrita em cima da nossa cama, em cima da minha, em cima da dele, “assim a gente nunca se esquece”, dizia ele. Mas não foi bem assim, ele lá e eu aqui, logo descobri Tony um menino de 17 anos que frequentava o centro de São Paulo, tinha uma pinta de surfista, mas era um burguesinho, mas um lindo burguesinho. Com a distância, Olhos de Mel foi embora, alguns meses depois fiquei sabendo que ele estava de enrosco com um dos professores da Universidade. Fernanda vivia naquela guerrilha de combate direto ao Regime, era militante assumida, mas logo não se chamaria mais Fernanda, pra ser sincero pra quem sempre foi preso lutar pela liberdade é ironia, eu não entendia bem liberdade do que, não me envolvia, concordava, mas ficava distante. Tony tinha uma bunda linda, e olhos incríveis, azuis, era fácil de se afogar.

Tony tinha 17 anos, estava terminando o ginásio, era decidido, sabia o que queria e ia atrás, sem medo. Eram jovens e até hoje são, independente do lugar onde estejam. O pai de Tony, Comandante Moraes, era a principal ligação do Regime Militar em São Paulo, e logo sem querer lá estava Daniel entre facas ideológicas, tendo que escolher entre Tony e Fernanda. Ele sempre amou Fernanda, disse que estaria com ela até a morte. Daniel já tinha escolhido seu lado, mas Tony também tinha, ele foi atrás de Daniel, fugiu de casa, largou a escola, largou o pai, mas seu grande erro foi deixar um bilhete, confidenciando o porquê.

Amar pessoas do mesmo sexo não era uma coisa digna pra ninguém, ‘éramos doentes’ gritava a psiquiatria convencional. O Comandante Moraes veio atrás de mim, me caçou como um lobo caça sua presa, estávamos vivendo na ditadura. Não se tinha muito o que fazer pra fugir de alguém como Moraes, mas conseguimos, viajamos um tempo pro Rio de Janeiro Fernanda fez questão de nos mandar embora, estava muito perigoso,  nos mandou ficar na casa de uma amiga, uma companheira, uma artista, independente de por que elas lutavam, ela era um artista, seus desenhos eram vivos, etéreos. Até hoje tenho um colado na parede. Um dia eu, Tony e Vera, amiga de Fernanda, fomos assistir a uma peça. O teatro na época era uma coisa perigosa, no meio da sessão invadiram o teatro, eram uns homens, Comando de Caça aos Comunistas ou CCC, e começou o quebra-quebra, Tony estava com medo, eu tinha 20 anos, Tony 19, Vera 32. No meio da multidão eu vi dois olhos e dois olhos me viram, antes não tivesse visto pois nunca mais os vi.

Olhos de Mel fora capturado como preso político, torturado pra dizer o que sabia, não sabia nada, mas confessou, confessaria qualquer coisa para aquilo parar. No dia seguinte apareceu no jornal que o elo comunista entre Rio de Janeiro e São Paulo fora preso, era a foto dele no Jornal, Daniel chorou muito, naquele clima carioca. Daniel gritou muito, naquele clima carioca. Daniel morreu no mar, e voltou pra São Paulo com Tony do lado. Fernanda tinha morrido num acidente de carro. Agora se chamava Michelle.

Uma vida clandestina não é fácil, não se é nem vivo nem morto, não se vive sua vida, vive a de outro, o perigo é constante, ela tinha que sair do Brasil, eu não tinha um puto no bolso, mas ela tinha que ir embora. Michelle nunca foi capturada, se mudou para França, Tony tinha economias, mas esse foi mais um erro de Tony, mas valeu a pena, Michelle ficou bem, está bem, eu recebo cartas algumas vezes ao ano, falando das flores e da neve. Comandante Moraes sabia onde nos encontrar, e me encontrou.

Comandante Moraes encontrou Daniel, mas não encontrou só isso. Seu Pelotão invadiu a casa onde Daniel morava, uma coisa é certeza o Comandante nunca esquecerá da cena que presenciou ver seu filho Tony em poses pouco ortodoxas e com Daniel dentro dele, talvez isso tivesse aumentado o ódio, talvez não. Daniel foi levado sob a acusação de espião Comunista. Tony foi para algum país da Europa a mando do pai.

Durante três dias eu conheci o Comandante Moraes, foram três dias sem dormir, não por capricho, por puro sadismo, nesses três dias fui sodomizado e torturado das maneiras mais criativas que vocês podem imaginar. O Comandante, enquanto me sodomizava, o qual ele fez questão de fazer pessoalmente, gritava coisas como ‘vai sua bicha, você não meteu no meu filho, agora sou eu que vou meter em você, ta gostando hein… responde seu pervertido’. Me chutavam, davam choques, atacavam sal grosso nos meus olhos abertos…E mesmo assim eu só conseguia pensar nos meus Olhos de Mel, sentia ânsia, nojo, chorava, mais por imaginar que ele teria passado por tudo isso. Eu não o protegi, eu o deixei…

Depois desses três dias de pura diversão para o Comandante, muitos mais dias vieram, mas agora o Comandante Moraes não aparecia, não tinha mais motivos, depois dele veio o torturador oficial brincar com o corpo de Daniel, ele estava a 5 dias sem comer, ele não era um preso político, ele nem comunista era. Daniel ficou preso por 3 meses sendo torturado regularmente das 7:30 às 10:00 da manhã, menos aos sábados porque era dia do seu carrasco ver a família. Daniel foi solto por falta de provas.

A gente não vive, sobrevive… Verdade seja dita, descobrir partes do corpo que você nunca imaginou que teria, só pela dor que provocavam em você, não é algo interessante. Ainda tive sorte só perdi os dentes da boca, mas teve gente que está muito pior, que ainda está lá. Tinha gente que comia merda na tentativa de ser considerado maluco e tirado dali. Procurei pelo Tony, foi quando descobri que ele tinha se mudado para Europa. Melhor para ele, melhor pra mim, acho que não conseguiria olhar na cara dele depois de tudo, os olhos dele lembravam os olhos do Comandante, é fácil de saber quando os olhos do Comandante não saem da minha cabeça…

Os machucados mais recentes demoraram a cicatrizar. Daniel voltava à vida, mas que vida era essa? Ele se perguntava todos os dias. Andava pelas ruas barulhentas de uma São Paulo agora desconhecida, via paredes pichadas, injustiças cometidas, sangue derramado. Daniel não é do tipo que guarda as coisas. Pela primeira vez depois da prisão e de tudo que veio com ela, ele sentia saudades do Pai.

Seu José logo soube a verdadeira causa da prisão do filho, afinal uma vez militar, sempre militar. Daniel foi à procura do pai e o que recebeu foi algo que nunca imaginaria.

Os olhos sem brilho de papai estavam cheios de lágrimas, sua boca seca tremia, babava, ver de repente aquele homem que sempre foi forte, que sempre foi rígido ali, parado, frágil como um bebê. Ele correu me abraçou forte, não disse nada além de ‘Meu filho… ’. Chorei, procurei em minhas lembranças um abraço tão forte quanto esse que eu recebia, não encontrava nada, papai nunca tinha me abraçado daquele jeito. Olhou-me nos olhos, passou a mão pelo meu rosto e sorriu, meu pai sabia de Tony, meu pai sabia de mim e mesmo assim só disse: ‘Sente aqui’. Ofereceu-me uma xícara de café e um pedaço de bolo que a vizinha deixava com ele todas as terças.

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Bento

Era uma manhã de sol que virou tarde de chuva, a brisa verde saia de sua boca e se misturava com as cores mistas que só um dia como esse oferece.

Bento estava na sacada contemplando a dança entre o sol e chuva que se formava. Enquanto se arrumava pra romper o casulo da manhã e por os pés na rua. Chamou um carro.

Tamanha foi sua surpresa ao entrar e ouvir os primeiros acordes de My Funny Valentine do Sinatra. Por um minuto achou que sua vida tinha se tornado um musical hollywoodiano, em que ele e o motorista faziam um dueto com a banda ao fundo.

O carro ia depressa enquanto Bento e o motorista trocavam figurinhas sobre cantores de outrora. Dia incomum, pensou Bento (e o motorista também).

Desceu em frente a um café com a chuva já tocando o chão. Pediu um chocolate quente, uma água fora do gelo e escreveu em seu celular uma história, uma reprodução lúdica do dia que teve até o dado momento. Chamou seu protagonista de Pedro.

Ao terminar sua escrita encostou a boca na taça de chocolate, que ainda estava quente.

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Meu primeiro beijo

Eu tinha 16 anos, um moicano com tonalizante vermelho, usava uma camiseta preta com uma caveira com a língua pra fora, uma jeans surrada e um par de all stars.

Eu estava com alguns amigos na paulista durante a Parada Gay de São Paulo, quando o trio elétrico da A Loca, passou por nós. Era o único trio que tocava um pouco de rock então eu deixei meus amigos e fui pra trás do trio dançar.

Quando percebi um homem com o cabelo liso e comprido atrás de um trenzinho  vindo em minha direção. Ele me olhava. Eu sorri. Deu pra ver seus neurônios repensarem diversas vezes se deveria ou não me beijar, eu era “tão novinho”. Me beijou. Foi tão certo. Meu corpo finalmente se encaixou. Na época eu não usava barba então a pele áspera do rosto dele arranhou minha pele lisa. Os pelos do braço dele encostaram nos meus, nossos peitos e barrigas próximos e a língua dando piruetas dentro e fora das bocas.

Ele foi embora e eu fiquei, mudado, diferente. Olhei pra trás, para onde estavam meus amigos, todos héteros, e eles comemoravam e acenavam pra mim, dedões pra cima, sorriso no rosto.

Depois disso foi uma questão de “Leco 1, Leco 2, Leco 3 e 4… Caralho Leco, 5?!”.

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