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Autor: Leco Vilela

Green Man

No peito aquele vazio complacente que se segue inerte, não transborda e nem seca. Apenas palavras vagas e um sentimento tosco de normalidade. Minhas mãos cravam a terra e a sujeira embaixo das unhas não mais me incomoda. É como se o mundo tivesse virado algo mais simples, mas não por isso mais fácil.

Sinto a dor que tenho que sentir e não mais a aquela angústia sufocante que afoga. Estou removendo aquela voz incessante que me impede de chorar – “seja homem” – estou sendo, e minhas lágrimas seguem ao meu lado. Tenho aprendido a ser frágil.

Tive que ser guerreiro por muito tempo e não herói. Aquele que suja a mão de sangue, não por glória ou honra, mas porque precisa, pois esse foi seu caminho. As estradas mudam.

Existe um mito antigo sobre as faces do Deus, aquele que caça, aquele que cultiva e aquele que guia.

Acho que chegou a hora de baixar o escudo e deixar morrer para renascer, florir o que tiver que vir.

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Sobre Sexo e outras Coisas

Lembra dos meus olhos cruzando com os seus naquela meia luz?

Eu estava indo embora quando o verde dos teus olhos me pescou. Anzol sem isca.

Sua boca colou na minha. Você estava mais bêbado que eu e talvez por conta disso colocava a minha mão por de baixo da sua saia. Eu te dedei e alisei o seu saco com um sorriso bobo no rosto. Quase um adolescente no banco de trás do carro. Te levei pra casa e fudi contigo. O sol começava a ganhar espaço no quarto e a gente não dormia. O teu gosto perdurou por dias na minha língua.

Outro dia te vi no meio do bloco e atravessei um mar de gente só pra te abraçar e sentir sua bunda roçando no meu pau de novo. Fui te levar em casa e você me chupou no corredor do prédio. Eu queria te comer ali mesmo, mas dessa vez eu fui pra casa sozinho. Fiquei pelado com o ventilador no saco pra ver se passava esse fogo que você acende em mim. O vento alimenta as chamas.

Tive que gozar de novo entre meus dedos lembrando das minhas bochechas entre as suas nádegas brancas e de como você mordia o lábio enquanto meu dedo visitava cada centímetro do teu cu. Nossa como a gente encaixa gostoso aqui.

Adormeci melado das tuas lembranças.

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Ansiedade

Você tenta respirar fundo, tenta se concentrar apenas na sua respiração, daquele jeito que você aprendeu, que você sempre fez, mas tem vezes que a onda é tão grande que passa por cima de você.

Milhares de coisas passam pela sua cabeça ao mesmo tempo. Medos, anseios, dúvidas, angústias, alegrias, teorias, etc. Quando você se da conta nem respirando você está. Suas mãos e testa suam, seus olhos só enxergam o caos da sua mente e você sente seu corpo afogar num mar de emoções. Você está a deriva, em mar aberto.

Você pensa que é forte e que já passou por crises maiores. Você quer acreditar que é forte e que já passou por crises maiores. Você precisa ser forte e passar por só mais essa. Seu corpo inteiro pesa, você quer chorar e gritar. Grito mudo que ninguém ouve.

Segura firme o gelo entre as mãos e acolhe. O frio arde, mas você aguenta. Por favor passa, só dessa vez, passa sem levar minha sanidade contigo.

Na maioria das vezes ela passa, mas algumas vezes ela finco os pés no peito e fica.

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Oceano

Foi sentado numa duna olhando o mar que eu entendi. Aquele sentimento que bate no peito toda a vez que meus olhos cruzam com a imensidão azul.

Gratidão, paz, acolhimento, pertencimento, etc. Entendo a fixação de Neruda pelo mar, seus joguetes de palavras, suas cadências em ondas, seu ritmo de remo em cada sentença.

Darwin presumiu que evoluímos, que num momento longínquo da história dividimos o mesmo útero com todos os outros seres, o oceano. Talvez seja por isso todos esses sentimentos que se resumem em clichês, esses momentos de inspiração, aquele conforto de dormir semi nu cercado de areia. Tamanha a segurança que sentimos diante dessa deusa com seu véu azul que estoura em conchas.

Mãe, rainha e criadora, obrigado pela vida que me deste e obrigado pelo dom de tecer palavras assim como aqueles pescadores que colhem em rede seus frutos.

Obrigado por dar-me o pão e a água.

Obrigado por me ensinar a fazer parte.

Obrigado por me deixar te amar.

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Separação

Num dia você está pregando pregos na parede, escolhendo móveis para ocupar os espaços vazios e no outro suas coisas estão em sacos e caixotes na calçada e anos de um relacionamento se fecham no porta-mala de um carro.

As mãos se separam, as bochechas se molham, o coração aperta.

Após dividir minha vida com alguém durante tanto tempo e ter que seguir meu caminho sozinho, o pior dia pra mim passou a ser o domingo, silencioso e tedioso domingo. O relógio corre devagar demais e a cada minuto uma nova armadilha se apresenta.

Ressignificar esse dias vai levar mais tempo do que eu imaginei.

Você sente falta de se deitar no sofá e olhar a janela enquanto pessoas brincam na quadra da pracinha a frente, sente falta dos quadros que não foram pendurados, do espelho do banheiro, do jeito que a água do chuveiro caia no seu corpo. Não, não são simples saudades de objetos, são saudades do tempo que foi dedicado, do carinho que foi pensado para cada um daquelas bugigangas.

Saudade de chegar em casa e ter com quem conversar, mesmo sabendo que aquela amizade pode nunca mais voltar a ser.

Com a distância você aumenta o volume das suas vontades que a muito foram abafadas pela esperança da reconciliação e vai percebendo o quanto tu se sacrificou, cedeu, engoliu, pra tentar ser feliz. E não importa quanto as pessoas digam que tudo vai ficar bem, você segue mal, o que não quer dizer que você não irá sobreviver, muito pelo contrário.

Sabe quando você quebra a perna e fica mancando, mas com o passar do tempo isso torna-se o normal? E quando você tira o gesso e em menos tempo ainda você percebe o padrão de normalidade mudando de novo?

Só assim pra entender que normalidade não é um conceito sólido.

Você se sente sozinho, você se sente angustiado e até um pouco diminuído. Você acha que todos os teus amigos te olham com aquele olhar de “coitado”, mesmo que não o façam, você ainda acha. Você se culpa por não ter sido mais forte, mais paciente, mais tolerante, que talvez se tivesse esperado um pouco mais as coisas teriam se acertado. Tudo isso ao mesmo tempo que você se sente livre, que entende que deu o seu melhor.

Terminar uma história nunca é fácil, fácil mesmo é terminar um texto.

*** Texto postado originalmente em – http://www.welove.com.br/separacao/
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