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Autor: Leco Vilela

Memória

Brisa suave de verão, cerveja gelada, som de samba ao fundo, um pedaço do erre jota em Porto Alegre.

Sabe aqueles momentos em que sua mente te leva prum lugar tão bom que o sorriso se esboça involuntariamente no seu rosto?

Lembranças guardadas num lugar de carinho, aquela sensação boa de acolhimento e pertencimento. Momentâneo sim, mas não por isso menos real. Me faz feliz perceber que conforme o tempo passa mais vivências como essas se acumulam no lobo temporal medial. Você vai percebendo como a vida se construí através de uma jornada única que é de inteira responsabilidade sua. Vivendo e aprendendo. E lá vai outro sorriso arquear os lábios.

É engraçado assistir os efeitos do tempo em seu corpo enquanto você vai construindo essas lembranças. Os pelos embranquecendo, você envelhecendo e se encontrando de novo e de novo, sempre procurando você no presente e usando o passado como mapa pra saber onde teu coração aperta ou se enche e assim ter um palpite de qual caminho seguir.

Ainda falta muito pro sol se pôr, o samba ainda não acabou e a cerveja segue gelada. Acho que fiz mais uma memória.

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Uma carta aos que tem mais de 40

Olá, tudo bem? Aqui as coisas estão mais ou menos, até por isso lhe escrevo.

Quem vos fala é um homem de seus quase 29 anos, que aproveita o momento chave na vida para relembrar as palavras de Elis, a quem já entrou nesse novo mundo de maturidade, “O novo sempre vem”.

A verdade é que me aproveito da minha posição privilegiada, de adulto jovem, para conversar com você, que já chegou ou passou dos 40. Ao longo dos anos eu vi você ter que ficar cada vez mais no presente, em como gerenciá-lo, ajustá-lo, organizá-lo, enfim prestar manutenção ao hoje e estar certo de que tudo funciona. Acredite eu vi bem e acho essa tarefa linda e extremamente necessária para a humanidade.

O problema é que, quando estamos focado na manutenção do agora dificilmente enxergamos as possibilidades e as alternativas que o futuro nos trás. Até porque o dia só tem 24 horas, não é mesmo?

É por isso que eu gostaria de reforçar a vocês que “O novo sempre vem”, não porque eu seja um hippie chato, um eco chato, um jovem chato, mas só porque eu entendo que as respostas pro nosso hoje estão no amanhã dos mais jovens que eu.

Por isso gostaria de propor um desafio, e se a partir de hoje, quando um jovem falar de uma ideia você realmente ouvisse? Eu entendo que você está acostumado a tornar real, mas algumas ideias ainda são embrionárias e não tem um ambiente favorável para serem maturadas, até mesmo porque isso precisa de tempo. A verdade é que focados no hoje não percebemos os erros que cometemos, ou ainda uma forma mais sustentável de fazer as coisas.

Nossa vantagem é que temos o jovem para olhar pro amanhã e nos alertar dos males que virão. Então por favor, você que já passou dos 40, por mais difícil que seja, ouça os jovens. Vejam pelos olhos dele, enxerguem as lutas que eles estão lutando e tentem, por favor, entender. Prometo que assim nosso futuro hoje será melhor do que o agora que hoje temos.

Abraços repletos de carinho e gratidão pelo trabalho tão importante que vocês executam.

*PS: Ao divulgar esse texto recebi alguns comentários questionando a minha associação do comportamento conservador as pessoas com mais de 40 anos. A verdade é que considerei os dados demográficos das eleições para prefeitos de 2016, nesse cenário o recorte demográfico que elegeu candidatos de extrema direita ao longo do país iniciava nesta idade. Uma das sugestões era de alterar o título para “Uma carta aberta aos Conservadores”, pois afinal eles tem qualquer idade, mas preferir manter o texto associado a idade com base na demografia que deu origem a carta para efeito literário.

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Casa

Calça jeans rasgada estreita na altura da canela, mas um pouco folgada na sua cintura. Camiseta preta e longa. Moletom cinza com capuz e ziper. Barba por fazer. Cabelo raspado. Fones nos ouvido sem nenhuma música. Tênis escuros de sola branca meio encardida.

Caminha sob um piso de granito também encardido. Cada passo em um ritmo calmo, inspira… Expira…

Foi até o guichê e comprou dois bilhetes, desviou de desconhecidos e inseriu um deles na catraca, deixou-se rodar. Caminha para direita simplesmente por que sempre fazia isso, desceu as escadas com pressa, deixando o peso do seu corpo em queda puxar o ritmo. Aterrissou num chão sintético, preto com bolhas pretas, antiaderente. Caminhou até o final da plataforma.

Ouviu de longe o atrito entre o trem e os trilhos, seu corpo parado no exato lugar em que a porta viria a se abrir ao toque de uma campainha rápida de dois tons. Projeta seu corpo para o banco da janela no sentido que o vagão seguirá os outros vagões.

87 quilômetros por hora, é a velocidade média em que a cidade corre para trás da janela. Os olhos vidrados no nada, a melancolia de um espaço público transformado em um momento de isolamento. Os problemas passam nesses 87 quilômetro por hora.

Levanta o corpo imóvel a mais de 20 minutos e se põe em frente a porta, ao ouvir a campainha rápida de dois tons atravessa a plataforma sem correr e entra em um novo vagão. Sentido oposto, sem espaço para sentar se coloca ao lado da porta. De pé. Olha as minúcias das pessoas em sua volta. Três estações se passam e seu corpo já sabe o caminho para aquela ingrime escada rolante que termina em roletas e pessoas que veem e voltam como ondas.

Tira os fones do ouvido com um sorriso calmo no rosto, vesti o capuz do moletom e sai pela esquerda enquanto some nesse mar de pessoas.

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Ensaio sobre a dor

Existe uma dor que é percebida no peito, as vezes essa dor é tão grande que parece não caber em nossos corpos físicos, ela se agarra na parede dos músculos e aperta. Dor essa que deixa a boca seca e molha os olhos. A posição fetal aparece como reflexo dessa dor, o silêncio pesado do não saber. Sentimento de estar perdido, de não fazer parte, de não ter respostas, de não saber de si. O coração se contrai em dúvida, as costas pesam, as pernas doem e o mundo some entre a quase ausência da respiração. O nome dessa dor é angústia.
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Caminhos

A dois anos eu peguei a estrada, andei. Buscava algo… Algo que eu via brilhar nos outros, mas faltava em mim. Ainda na estrada, com o sol batendo forte no rosto, me deparo com resoluções sobre a minha busca. 

Não havia chegado a um lugar, encontrei o que me faltava durante a caminhada.
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