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Autor: Leco Vilela

Gin com Tônica

Foi no segredo do teu copo que eu encontrei o teu olhar.
Foi no gole seco e cheio de histórias que eu te vi passar.
Equilibrista do meio fio a cambalear.
Dançarina sem ritmo que no faltar da música  pois se a cantar.
 
Cantando a magoa do peito aberto,
Chorando Gin na esquizofrenia de seu sorriso.
Ela flutuava entre os paralelepípedos.
 
Litro por litro e Grand Jeté.

 

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Três Minutos

São três e trinta e sete da manhã. Noite quente de verão, na rua passa dos 30 graus. Acordei a pouco devido ao calor, minha mente não conseguiu aliviar a tensão e se permitir cair nas graças do inconsciente.

Faz tempo que não escrevo, os dedos parecem estar um tanto quanto enferrujados. Uma gota de suor roda por de trás do meu joelho e chega rápido ao meu calcanhar. São três e quarenta da manhã, já tomei um banho gelado e nada. Sempre durmo nu nessa época do ano, qualquer micro centímetro de tecido além do lençol faz com que meu corpo mine.
 
Noite turva hoje, não consigo ver o céu direito, mesmo com as luzes apagadas do lado de fora, poucas estrelas brilham. Volto pra frente do ventilador, são três e quarenta e três, eu aumento a sua potência e sinto o vento artificial brincar com os pelos do meu peito.
 
Caminho até a geladeira e procuro por algo que não existe, ansiedade, acabo por me contentar com uma imensa garrafa d’água. Engulo tudo e deixo escorrer um pouco pelo meu corpo, confesso que desde criança amo a sensação d’água gelada encontrando o caminho pela minha pele até o chão. São três e quarenta e seis.
 
Já escrevi tantas histórias ao passar dos anos, chega uma hora que parece que seu corpo seca. São três e quarenta e nove. As histórias não fazem mais parte de ti, talvez seja hora de ser menos Frida Kahlo e mais Salvador Dalí. Talvez … 
 
Minha bateria logo vai acabar, acho bom ficar por aqui. São três e cinquenta e dois de uma madruga tão quente que me despertou.
* Imagem por Derek Fernandes.
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Nome da Coisa

Deixei de sujar as mãos com a tinta da caneta esferográfica, que recebe esse nome pela pequena esfera que reside em sua ponta; deixe de registrar o mundo através das minhas fotografias, que recebem este nome por se tratar de um registro visual produzido pela infiltração da luz em uma câmera escura onde reside uma superfície sensível; deixe de viver em São Paulo, que tem esse nome pois o colégio que viria a dar origem a cidade foi inaugurado no dia 25 de janeiro, dia em que a igreja católica comemora a conversão do Apóstolo Paulo, deixei de me preocupar com os outros, pois eu precisava encontrar o Leonardo, que o nome significa Leão Valente e tem origem germânica; Deixe tantas coisas pra trás, coisas que não tem necessariamente um nome, nomes que não necessariamente representam coisas. São coisas sem nome, são nomes para as coisas.
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A dor

Tem algo de quebrado em mim.

Minha voz não passa pela minha amígdala e dessa forma meu peito segue cheio. Tenho lidado com o mundo ultimamente e minhas costas pesam.

Não se trata de quereres, trata-se da inabilidade de dividir a dor. A qual aprendi, a um longo tempo, carregar sozinho.

Peso 200 quilos.
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Muda

Hoje eu não acordei triste e nem contente.
Hoje eu acordei diferente.
 
Ao abrir os olhos, em direção das persianas fechadas, descobri o motivo da madrugada mal dormida.
 
Havia passado a noite redecorando a alma, tirei dali toda decoração inútil, despreguei cada orgulho e cada ato egóico, me livrei do fardo pesado da mágoa. 
 
Me perdoei.
 
Na parede branca da minha alma deixei meu retrato de criança cercado por boas memórias do meu passado.
 
Só depois dessa árdua faxina que me dei conta de que meus olhos estavam embaçados com os meus fantasmas e que por isso me viam bem pior do que eu realmente era.
 
Floreci.
 
 
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