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Categoria: Cidade Grande

Momentos

A primeira vez que li “Paixão Segundo G.H.” de Clarice Lispector, foi a mais ou menos 3 anos atrás.


Era 26 de Dezembro de 2007, eu estava sentado em um café na rodoviária do Tiête. Eu esperava o ônibus que me levaria a Belo horizonte.

Lembro de tomar café enquanto abria pela primeira vez aquele livro, um presente do meu diretor e amigo, tamanha foi minha surpresa ao ouvir as teclas de um piano a tocar, e assim constatar que o som era real e não uma tradução da minha sinestesia. Uma mulher havia se sentado ao piano que só naquela hora pude perceber, fazia parte do cenário local.

Voltei a ler alimentado por aquela melodia e então; G.H. entra no quarto de sua antiga empregada, disposta a limpá-lo, a traduzi-lo, mas para sua surpresa o quarto estava lá, imaculado em sua neutralidade. Com essa cena em minha mente outra coisa me surpreendia. Nas migalhas da minha torta de palmito estava um passarinho a se alimentar… A poucos centímetros de mim. Convivia com minha presença com tamanha indiferença. Alimentava-se.

Excitado pelo momento quase mágico ao som do piano a ao ciscar do pássaro à minha frente, voltei a ler. E lendo eu tinha à esperança de que algo mais acontecesse. Algo que desafiasse a vil lógica dessa terra com nome de santo.

A voz no alto falante me despertava. A realidade era anunciada, o ônibus chegará. Oito horas depois e com o livro terminado eu desembarcava no verão abafado de Belo Horizonte.

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Subway

… É! São Paulo sempre surpreende, sempre tem das suas, o transporte público então, com suas desgraças, onde o vagão do mêtro parece uma lata de sardinha que se abre a cada estação… muitas vezes melhora o meu dia.

“Hoje é sexta-feira dia 30 de Outubro de 2009, são exatamente 7h42 e nesse horário já fiz muitas coisas, o mêtro está parado o que me dá mais tempos para essa resenha.
Bom, hoje acordei cedo pois as 6h44 chegava à São Paulo um pedaço do Rio de Janeiro, no caminho para a rodoviária, prensado entre corpos na lotação que me leva até a estação tucuruvi do mêtro, começa a tocar uma música do Jack Johson e o senhor atrás de mim começa a rebolar ao ritmo da música, com sua bunda ligeiramente grande – irresistível não se deixar rir da situação, “coisas de cidade grande” , vai saber?.
Depois de encontrar meu pedaço do Rio, sigo para a faculdade. No mêtro em pé diante de mim, um casal de [d]eficientes mentais se beijam, brincam de cocegas, sentam no colo um do outro, sem o mínimo de puder de serem felizes, sem querer me pego a sorrir descaradamente e achando graça me senti parte dessa grande metrópole que por mais cinza, cimentada e com um mêtro com sérios problemas, pois parou novamente, bate e circula quente como um coração.
São Paulo pode sim ser a terra da garoa, do trem das onze, mas é muito mais que isso, que cimento, é mais carne, é vida, é amor em meio de tanta correria.”

Atenciosamente,
Leco Vilela
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