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Categoria: São Paulo

Compulsões

Essa via de eternas luzes acesas que sangra o planalto da selva cinza, esconde seus segredos em formas anacrônicas.

Nem mesmo os frondosos arranha-céus serviram para que o macaco bípede alcançasse o céu e seus sonhos. Vejo sonhos transformados em hobbies, vejo dinheiro descendo pelo ralo e ainda tento entender a dança de king kong’s pelos prédios de São Paulo.

Bailarinos executivos e pintores contadores compõem a estranha fauna que aflora na cidade do asfalto. Chega a beirar o surrealismo as imagens que se produzem na sombra dos Homos Operarius. Formigas de terno e gravata enfeitam suas paredes com falsos Picassos e eternas rachaduras insolúveis. Basta-me ver o camaleão que se força a encaixar suas cores a palheta monocromática da sociedade “civilizada”.

Lampadas não iluminam mais, agora servem de sabres de luzes que matam inocentes. Estupro, morte, latrocínio, furto, homicídio; relatos sangrios direto D’antena que invadem os olhos cortados da infância.

Corações batem desesperados numa dança de acasalamento bizarra conduzida unicamente pelo prazer individual excluindo o respeito sagrado do corpo. Leões morrem sozinhos.

Caos e ovos mexidos. E as luzes do planalto da selva cinza ainda brilham a sangrar meus olhos.

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Domingo

Neste domingo eu acordei mais cedo, um horário normal para os dias da semana que correm, mas cedo para um domingo quieto.

Sentei no sofá e como de costume, tomei meu café agarrado nas minhas próprias pernas, como um contorcionista a brincar de nó humano, salvo as devidas proporções, é claro! 

Café tomado, eu precisava sair do meu nó, a inquietude pairava sobre mim e me mostrava a rua, eu precisava ver a rua, ver o céu além da estrutura da janela de minha sala.

Troquei-me de pressa como de um salto, desci o elevador e peguei minha bicicleta em meio aos motores sedentos de petróleo. Sai pedalando forte pela rua vazia de uma São Paulo que ainda dormia. O vento forte vinha de encontro ao meu peito me causando arrepio e me deixando vivo.

Andei, corri e até voei. E nesse devaneio real, cheguei ao parque, passei entre ciclistas e pedestres, ouvi um jazz bem tocado, deitei na grama ensolarada e cochilei deitado entre folhas caídas de outono. Tirei fotos com os pássaros e pensei, pensei nessa vida que corre pelas ruas de São Paulo.

Vivi até chegar à hora de mais um ensaio. Sai de um sonho findado em realidade para a realidade de fazer sonhos. E no fim das contas, era só mais um domingo.
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O homem invisível

 
Penso em um homem ultimamente, ele usa um terno preto, uma camisa branca com a gola aberta, seus sapatos brilham. Ele tem o corpo suave, simples, másculo. Seu cabelo é negro e seu queixo largo.

O procuro entre os corpos da paulicéia e não o encontro. Não sei seu signo, seu nome, seu endereço. Eu nem o conheço. E mesmo assim vejo-o, desejo-o e sinto-o ao fechar meus olhos.

Sonho com ele a cruzar a rua, com a voz roca a soar leve em minha nuca. Quem é você?

Quem sou eu? Eu que espero por um homem invisível. Um homem feito de um sonho capturado pelas minhas pupilas cerradas.

Quem és tu?… Tu és o nada.

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Cidade de Gelo – Capítulo 7

Andando pelas ruas do centro de São Paulo, ela percebeu a garôa provocada pelos ares-condicionados que vazavam das janelas dos grandes edifícios.


Ela andava despreocupada a receber esta chuva criado pela homem, sem se incomodar. Seu vestido colorido e esvoaçante a destacavam das demais mulheres em tons cinzas e pasteis. Parou assim que chegou ao Largo do Aroche, eram exatamente 18h e o centro antigo começava a escoar pelo metrô.

Estava diante da floricultura de rua. Entrou. Sentia o perfume e o tato que as pétalas e folhas lhe provocavam. Escolheu por óbvio flores silvestres, simples assim como ela. 

Pegou seu buquê e ficou a espera de algo, logo em frente a floricultura. Viu do outro lado da rua, vindo em sua direção o seu coração, aquele que ela tirou do peito. O coração vinha em sua direção brincando de câmera lenta, como nos filmes antigos. 

Ela também usava um vestido, era florido e a alça lhe caia sobre o ombro, deixando evidente seu pescoço nú que pulsava. Se beijaram. Naquela noite soubesse de boatos que Vênus encontrou o seu reflexo.
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A Minhoca de Metal

por Leco Vilela
Dentro da minhoca de metal você vê a vida passar e nem se percebe ao mexer, nessa rotina aturdida de todos os dias, nem ouve o som do tilintar dos trilhos.

Sentado diante da janela dos olhos da minhoca, você vê a paisagem se distorcer num ZOOM. As imagens se formam e se dilatam enquanto os olhos piscam. A velocidade nunca cessa.

E nesse ritmo a cada manhã a minhoca come para depois regurgitar cada um de nós, aqueles que não deixam a cidade parar.
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