Skip to content

Categoria: Vida

Ensaio sobre a dor

Existe uma dor que é percebida no peito, as vezes essa dor é tão grande que parece não caber em nossos corpos físicos, ela se agarra na parede dos músculos e aperta. Dor essa que deixa a boca seca e molha os olhos. A posição fetal aparece como reflexo dessa dor, o silêncio pesado do não saber. Sentimento de estar perdido, de não fazer parte, de não ter respostas, de não saber de si. O coração se contrai em dúvida, as costas pesam, as pernas doem e o mundo some entre a quase ausência da respiração. O nome dessa dor é angústia.
2 Comments

Três Minutos

São três e trinta e sete da manhã. Noite quente de verão, na rua passa dos 30 graus. Acordei a pouco devido ao calor, minha mente não conseguiu aliviar a tensão e se permitir cair nas graças do inconsciente.

Faz tempo que não escrevo, os dedos parecem estar um tanto quanto enferrujados. Uma gota de suor roda por de trás do meu joelho e chega rápido ao meu calcanhar. São três e quarenta da manhã, já tomei um banho gelado e nada. Sempre durmo nu nessa época do ano, qualquer micro centímetro de tecido além do lençol faz com que meu corpo mine.
 
Noite turva hoje, não consigo ver o céu direito, mesmo com as luzes apagadas do lado de fora, poucas estrelas brilham. Volto pra frente do ventilador, são três e quarenta e três, eu aumento a sua potência e sinto o vento artificial brincar com os pelos do meu peito.
 
Caminho até a geladeira e procuro por algo que não existe, ansiedade, acabo por me contentar com uma imensa garrafa d’água. Engulo tudo e deixo escorrer um pouco pelo meu corpo, confesso que desde criança amo a sensação d’água gelada encontrando o caminho pela minha pele até o chão. São três e quarenta e seis.
 
Já escrevi tantas histórias ao passar dos anos, chega uma hora que parece que seu corpo seca. São três e quarenta e nove. As histórias não fazem mais parte de ti, talvez seja hora de ser menos Frida Kahlo e mais Salvador Dalí. Talvez … 
 
Minha bateria logo vai acabar, acho bom ficar por aqui. São três e cinquenta e dois de uma madruga tão quente que me despertou.
* Imagem por Derek Fernandes.
Leave a Comment

Muda

Hoje eu não acordei triste e nem contente.
Hoje eu acordei diferente.
 
Ao abrir os olhos, em direção das persianas fechadas, descobri o motivo da madrugada mal dormida.
 
Havia passado a noite redecorando a alma, tirei dali toda decoração inútil, despreguei cada orgulho e cada ato egóico, me livrei do fardo pesado da mágoa. 
 
Me perdoei.
 
Na parede branca da minha alma deixei meu retrato de criança cercado por boas memórias do meu passado.
 
Só depois dessa árdua faxina que me dei conta de que meus olhos estavam embaçados com os meus fantasmas e que por isso me viam bem pior do que eu realmente era.
 
Floreci.
 
 
Leave a Comment

Canhoto

As pontas soltas do teu cabelo estão se desprendendo do meu peito
Peito repleto de pontas soltas, que se vão com o tempo.

 

Estou ficando pelado de passado,
Parece que as portas que eu deixei aberta estão se fechando enquanto me afasto pra dentro de casa.

 

Estou ficando sozinho de forma exponencial. To expurgando cada dúvida dos meus ventrículos. To mandando você embora de maneira inconsciente, embora de uma forma bem consciente.

 

Memórias são leves substâncias que carrego comigo, mas para que a culpa? A dúvida de um futuro alternativo? A nostalgia de um passado que já não deu certo? Maldição do e se…

Sinto-me caminhar para algo diferente, direção nova que não via antes, me posiciono na bifurcação e escolho o caminho da direita do meu peito, é tempo de descansar meu lado esquerdo.


* Imagem por Leco Vilela.

Leave a Comment

Quiromancia

Quem sabe o que é um poeta? Quem são? Onde vivem? Do que se alimentam? Como se proliferam? A gente não encontra essa resposta no Globo Repórter.
 
Pesa-me as mãos entre as teclas. Não escrevo a muito tempo, deixei minha voz calar na esperança de ignorar a verdade. Não escrevi sobre você, pois sabia que ao faze-lo descobriria seu distanciamento, por isso calei-me.
 
Meu poema pra mim é como a palma de uma mão, onde eu sou a cigana com calos, rugas profundas e cheiro de almíscar. Leio meu futuro e meu passado, entendo meu presente. Entre minhas estrofes sem ordem ou cadência eu me vejo no vagar dos dias. Por isso calei-me, por isso deixei meus dedos mudos nesse tempo em que ficamos juntos.
 
Via a distância dos teus olhos, e sentia tua dificuldade em se entregar pra mim. Também vi você lutar por mim quando a rainha já estava caída, você não gosta de perder.
 
Me conheço, sincero, entre meus versos, cada palavra que solto, escrevo, é uma pedaço de mim que sai. 
Hoje acordei escrevendo sem medo os rascunhos que a muito guardei, minhas dúvidas não cessaram com meu silêncio. Então despi minhas verdades diante das teclas, e deixei fluir meu veneno. Espalhei minhas lágrimas trancadas e deixei a baba escorrer por entre meus lábios. Chorei.
Leave a Comment