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Nome da Coisa Posts

A Lembrança

Por Leco Vilela

Hoje passei em frente a casa do meu primeiro namorado, primeiro mesmo, daqueles que se anda de mãos dadas no parque.

O sol forte a iluminar meu rosto, me faz voltar uns quatro ou cinco anos. Lembrei-me de nosso primeiro encontro, ele havia cozinhado para mim, ainda sinto o gosto dos legumes banhados no azeite com alecrim. 
O cheio forte e característico, tomava conta de praticamente toda casa, o incenso que queimava na sala misturava as fragancias com harmonia.

Depois do vinho e do jantar me pos deitado em sua cama, tirou minhas roupas deixando em meu corpo somente a cueca que se salientava. Me abraçou, me beijou e sorriu, dormimos assim com o peito colado a sentir as batidas sonoras de um coração.

E assim como veio, se foi. Uma nuvem havia coberto o sol, me trazendo de volta dos meus devaneios. Percebi o quanto eu evitava mimos e carinhos desse meu herói Guarani. Não é que eu não gostasse ou me irritasse com seu toque, era algo que no intimo só percebo agora. O avesso ao carinho do toque era falta de hábito, fruto de uma infancia fria e desabitada da mão que corre a face em gesto lento.
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Carta para o céu – O Avesso do Mundo

Hoje eu vi na tevê que o bicho que vive no centro da terra não para de ser mexer, ele deve estar tendo um pesadelo.

O ruim é que ele deve ter acordado o bicho que vive no mar, pois esse, nervoso pois-se a espirrar. O bicho do mar deve estar doente e talvez por isso tenha se irritado tanto, afinal ser acordado pelo irmão quando não se sente bem é de se deixar revolto.

Dessa vez a terra dos olhos puxados sofreu sem ao menos ver a cara dos monstros, mas acho que logo estará tudo bem, afinal quando um monstro destruía Tóquio, na tevê, na semana seguinte a cidade já estava inteira, prontinha para vir outro monstro e destruir tudo de novo. Pensando bem, eles devem estar acostumados com isso.

Já aqui no Sul dessa terra que já foi verde, as cidades parecem feitas de açucar, pois se destroem a cada chuva. Enquanto lá do outro lado do mundo super heróis brigam contra monstros gigantes, aqui desse lado só nos falta é guarda-chuvas.

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A Minhoca de Metal

por Leco Vilela
Dentro da minhoca de metal você vê a vida passar e nem se percebe ao mexer, nessa rotina aturdida de todos os dias, nem ouve o som do tilintar dos trilhos.

Sentado diante da janela dos olhos da minhoca, você vê a paisagem se distorcer num ZOOM. As imagens se formam e se dilatam enquanto os olhos piscam. A velocidade nunca cessa.

E nesse ritmo a cada manhã a minhoca come para depois regurgitar cada um de nós, aqueles que não deixam a cidade parar.
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Gritei, cantei e pulei; mas eu fiz a minha Revolução

Foto tirada por Marcelo Sá, na Marcha Contra Homofobia que rolou nesse sabádo (19/02) na Avenida Paulista.
Fizemos o caminho oposto da tradicional Parada do Orgulho Gay. Saímos da Praça do Ciclista, na consolação, rumo ao número 777 da Paulista, próximo a brigadeiro. Esse endereço foi escolhido devido aos dois ataques que se tornaram notícias nas mídias nacionais.

Protestamos de um jeito leve, bem humorado e acima de tudo politizado. Não éramos gays, lésbicas, travestis, transsex, bissexuais, héteros, etc. Eramos cidadãos em busca dos nossos direitos.

O que fica? O sentimento de que enquanto não mudar, enquanto não parar, enquanto não chegar ao fim; esse preconceito, essa homofobia. Nós vamos pra rua, por que como diz o grito da manifestação “Você ai parado também é violentado!”

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De repente 23!

Recado que minha mãe deixou hoje na parede da sala.

De repente acordo e as figuras na parede a brincar de hieróglifos me fazem perceber a idade que chega. Hoje são 23 verões, 23 verões de existência, 23 verões de fortes batalhas vencidas e perdidas… 23 anos.

Parece engraçado dizer isso, afinal eu era um recém nascido, mas eu lembro da música de tocava enquanto eu nascia. Não me lembro dessa maneira ocidental de reviver a situação mentalmente. Eu lembro dela pelos meus poros e meus tímpanos, lembro dela com cada parte do meu corpo. E eu sei que lembro mesmo de forma tão abstrata, pois meu corpo vaza e transborda em emoção toda a vez que eu escuto a voz de John Lennon pedindo por um mundo melhor.

Para quem me conhece sabe ou consegue perceber que de fato nasci ao som dessa música, dessa canção que não só marca a minha personalidade, como marca minha trajetória, vida de marcas. E eu sei que vocês podem dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único. Eu tenho a esperança de que um dia vocês se juntarão a nós, os sonhadores. E o mundo, o mundo será como um só.

Por que imaginar um mundo melhor não basta mais, é necessário fazer seu mundo melhor a cada dia e perceber que ao menos na imaginação não existe posse.

Hoje comemoro o meu ano novo pessoal, a minha virada, o meu ano um. Hoje renasço e me permito ser e imaginar tudo aquilo que quero e posso.

Namastê.

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