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Vitrola

Eu por Regina Vilela

Cresci entre sons opostos e paisagens diversas, enquanto numa vitrola Joplin cantava as injustiças de uma vida, na outra o lamento do fado de minha avó tocava. Nem dois passos eu dava e lá estava os acordes de uma guitarra a se misturar com o som da cuíca.


Lembro de olhar entre as grades brancas do portão enferrujado a bateria da Nenê  que descia aos domingos. Recordo ainda do cheiro de peru, da letria na mesa de natal, da calda que escorria do manjar e do bordo do vinho a contornar a taça em movimento.


Recordo da água com açúcar, do beija-flor, das violetas, da hortelã que nascia ao pé do limoeiro e do barulho da máquina fotográfica mudando o frame.


Foi exatamente toda essa oposição, toda essa lacuna, que me fez assim, meio passado / meio futuro.

3 Comments

  1. Eu recordo de tantas coisas de criança tb, me identifiquei com a calda do manjar da minha mãe…hehe.
    Belo texto!

  2. Del Del

    Texto com tom poético. Muito bom. Parabéns.

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