Os olhos se abrem. Vejo através da cortina esvoaçante os raios do sol que penetravam meu quarto. A primavera toma força e enfim os pássaros cantam para me despertar, assim como quando eu era criança e despertava na cama de minha avó.
Nessa lembrança um cheiro familiar de café me toma as narinas. Esperança e incredulidade. Levanto de um salto e escuto o tilintar das panelas no fogo. A porta do quarto está fechada exatamente como quando minha avó se levantava mais cedo. Ela fechava a porta para não me despertar. Os pássaros, o cheiro do café, a porta fechada e o dia que se fazia sábado.
A noite tinha sido quente e meu corpo ainda suado não parava de produzir o néctar. Da testa minavam gotas de algum sentimento sem nome. Era preciso abrir a porta, mas a que preço… Abrir e descobrir que ela não está mais lá ou não abrir e por em dúvida a minha sanidade por uma vida inteira. Respiro.
Esse ensaio sobre a sanidade fez minha testa em cascata, as gotas escorriam pelo peito que subia e descia como em um tango, devido ao ar que só agora eu percebia existir. A porta à minha frente, sem perceber a mão posta sobre a maçaneta gira.
Andei, andei sem ver mais nada, só parei ao chegar à porta da cozinha. Por um momento o choque, o susto. Suas costas nuas também suavam, a samba canção folgada salientava as curvas pélvicas que tanto me hipnotizavam, ele estava lá, em pé na frente do fogão. Ela se fora.
Eu não abriria a porta.
Dizem que quando a gente fecha os olhos e deseja muito uma coisa, aquele minuto entre o desejo e a imaginação são quase que uma vida vivida, uma realidade customizada.
🙂
Lecoo, que liiindo! Minha infância foi mto parecida com a sua pelo jeito. Poucos textos bloguísticos me tocaram tanto até hoje, digo isso de coração. Por isso afirmo que vc é MUITO especial. cada vez me torno mais sua fã!
Te peço uma coisa: jamais pare de escrever!
bjo grande, tudo de bom!
Leco, fico feliz ao ver em você essa veia literária. Nós precisamos disso. Sinto que a poesia suprime a prosa no meio literário contemporâneo. Mas há poesia, também, onde não há rima. Esse texto é poesia, cara!
Abraço
Convido-o a publicar este texto no PÍLULAS LITERÁRIAS DO COTIDIANO.
http://pilulasliterariasdocotidiano.wordpress.com/
Abraço, Del