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Autor: Leco Vilela

Domingo

Neste domingo eu acordei mais cedo, um horário normal para os dias da semana que correm, mas cedo para um domingo quieto.

Sentei no sofá e como de costume, tomei meu café agarrado nas minhas próprias pernas, como um contorcionista a brincar de nó humano, salvo as devidas proporções, é claro! 

Café tomado, eu precisava sair do meu nó, a inquietude pairava sobre mim e me mostrava a rua, eu precisava ver a rua, ver o céu além da estrutura da janela de minha sala.

Troquei-me de pressa como de um salto, desci o elevador e peguei minha bicicleta em meio aos motores sedentos de petróleo. Sai pedalando forte pela rua vazia de uma São Paulo que ainda dormia. O vento forte vinha de encontro ao meu peito me causando arrepio e me deixando vivo.

Andei, corri e até voei. E nesse devaneio real, cheguei ao parque, passei entre ciclistas e pedestres, ouvi um jazz bem tocado, deitei na grama ensolarada e cochilei deitado entre folhas caídas de outono. Tirei fotos com os pássaros e pensei, pensei nessa vida que corre pelas ruas de São Paulo.

Vivi até chegar à hora de mais um ensaio. Sai de um sonho findado em realidade para a realidade de fazer sonhos. E no fim das contas, era só mais um domingo.
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O homem invisível

 
Penso em um homem ultimamente, ele usa um terno preto, uma camisa branca com a gola aberta, seus sapatos brilham. Ele tem o corpo suave, simples, másculo. Seu cabelo é negro e seu queixo largo.

O procuro entre os corpos da paulicéia e não o encontro. Não sei seu signo, seu nome, seu endereço. Eu nem o conheço. E mesmo assim vejo-o, desejo-o e sinto-o ao fechar meus olhos.

Sonho com ele a cruzar a rua, com a voz roca a soar leve em minha nuca. Quem é você?

Quem sou eu? Eu que espero por um homem invisível. Um homem feito de um sonho capturado pelas minhas pupilas cerradas.

Quem és tu?… Tu és o nada.

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Sinto…

Foto: Leco Vilela / Edição: Camila Stella
Sinto falta de um país singelo, sem medo e com zelo pela alma alheia. Sinto falta dos bons tempos de menino, onde o pique era um poste e não blindagem para te proteger dos inimigos.
Sinto falta de acordar ao som de pássaros no pé da minha janela, sinto falta de sentir a respiração do vento, de ouvir a árvore falar. Sinto falta das sutilezas, dos detalhes, do tempo.
Saudosismo que não é só meu, que vejo em vários cantos e ouço em outros cantos. Esse jeito de viver a vida assim calado, amado, mesmo que por si, é um jeito nostálgico de querer de volta a vida que me foi roubada, é do sútil que tenho falta.
Daquele sorriso faltando um dente de leite, do cheiro de bolo a gritar no forno, sinto falta não da minha juventude, nem dos meus tempos de menino, sinto falta é das crianças que enxergam vilas em caixas de sapato.
Parece que de um jeito torto o mundo perdeu o posto, perdeu respeito, perdeu amor. Parece que no fundo do mundo só a lava e não outro mundo, como há tempos atrás se dizia. Parece que tudo perdeu a magia. E aquele menino mirrado, que mesmo apanhando continuava a conversar com a sua árvore, ficou esquecido e empoeirado nas estantes do tempo.
Sinto. Por isso escrevo este manifesto de peito aberto, pela retomada do simples afeto, pela volta de algo simplesmente belo, por algo simples e não complexo.
Foto: Leco Vilela / Edição: Camila Stella
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Cidade de Gelo – Capítulo 7

Andando pelas ruas do centro de São Paulo, ela percebeu a garôa provocada pelos ares-condicionados que vazavam das janelas dos grandes edifícios.


Ela andava despreocupada a receber esta chuva criado pela homem, sem se incomodar. Seu vestido colorido e esvoaçante a destacavam das demais mulheres em tons cinzas e pasteis. Parou assim que chegou ao Largo do Aroche, eram exatamente 18h e o centro antigo começava a escoar pelo metrô.

Estava diante da floricultura de rua. Entrou. Sentia o perfume e o tato que as pétalas e folhas lhe provocavam. Escolheu por óbvio flores silvestres, simples assim como ela. 

Pegou seu buquê e ficou a espera de algo, logo em frente a floricultura. Viu do outro lado da rua, vindo em sua direção o seu coração, aquele que ela tirou do peito. O coração vinha em sua direção brincando de câmera lenta, como nos filmes antigos. 

Ela também usava um vestido, era florido e a alça lhe caia sobre o ombro, deixando evidente seu pescoço nú que pulsava. Se beijaram. Naquela noite soubesse de boatos que Vênus encontrou o seu reflexo.
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Mombojó comemora 10 anos com show agitado

A noite de sabádo,26, prometia, no lounge a espera do show de 10 anos do quinteto Mombojó, tudo parecia tranquilo, sem grandes multidões. Os garotos pernabucanos preparam 2 repertórios distintos para as duas apresentações comemorativas.

O show começou com 10 minutos de atraso, mas a tranquilidade do lounge se fora, mais da metade da platéia estava ocupada. O público conversava despereocupado parecendo não se incomodar com o leve atraso, mas a ansiedade era visivel, ao primeiro som do microfone todos se calaram.
A banda abriu o show com a agitada “Amigo do Tempo”, que leva o nome do novo álbum dos rapazes. Não demorou muito para que a galera que assistia ao show ocupasse as laterias do palco, o que não podiamos esperar é que logo na terceira faixa “Duas Cores” toda a extensão do palco fosse ocupada pelos fãs do grupo, mas é claro que não parou por ai, afinal o acesso a platéia foi ocupado por pessoas em pé embaladas ao som de Mombojó.
Destaque para a participação mais do que especial de Vitor Araújo, um pianista maravilhoso que encantou a todos com sua força, seu domínio e seu estilo tenso de tocar. Vitor acompanhou a música “Báu” junto com todo o grupo, o pianista foi aplaúdido e aclamado por toda platéia.
A iluminação do show integrava os espectadores colocando-os como parte do espetáculo. Enquanto o jeito desengonçado de dançar de Felipe, arrancava gritos de alguns pessoas pela sala. O vocalista se deixou levar pela música “Faaca”, que levantou toda a platéia, dando até uma cambalhota em meio aos seus passos que me lembraram por um instante de Ian Curtis, vocalista do Joy Division.
E assim como começou, terminou, Felipe, Marcelo, Chiquinho, Samuel e Vicente, sairam pelo lado direito do palco, com suas cervejas nas mãos e com o sour que descia de seus corpos. Foi um ótimo show.
* Texto publicado no site Dynamite Online
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