Skip to content

Categoria: Coisa

Ausência

Rio Tietê – São Paulo, SP
Ando sem inspiração ultimamente, ou talvez seja aquele bloqueio criativo que todos falam. Mesmo assim, eu tenho por hábito escrever, mesmo que seja o que está passando pelo minha cabeça, sem a necessidade de um apelo estético durante o processo.

Acho engraçado como as coisas são hoje em dia, os inúmeros recursos da comunicação tornam cada vez mais necessário que tenhamos algo a dizer. Uma opinião sobre algo. Uma versão de um fato, e sendo assim como alguém pode não ter sobre o que escrever?

São nuvens cada vez maiores e mais intensas. Eu sentado na frente do teclado e simplesmente não tenho nada a dizer. Talvez seja isso, talvez seja a falta de assunto em meio a tantas histórias. Talvez seja interessante escrever sobre não ter o que dizer… Será?

Bom, acho que vale a pena arriscar, afinal ninguém pode me culpar por não ter nada a dizer quando todo mundo já diz algo. Os assuntos é que estão gastos. Vou deixa-los descansar para depois ter o que falar, é isso, deixar o assunto respirar para só depois ter o que dizer.

Que música boa essa que tá tocando… Pera. O que eu estava pensando mesmo?

1 Comment

Cinza

Leco Vilela

Não existe mais contraste entre os prédios e o ar se torna visível de tão pesado. Essa nuvem cinza que domina o inverno paulista sufoca.

São Paulo nunca foi cheia de cores, mas no inverno seco a cidade se reflete anêmica. Quando chega à tarde, o Sol só faz doer os olhos. Não sinto minha pele áspera aquecer.

Não existe horizonte nas manhãs do inverno paulista. 

Existe o motor e a fumaça, a velocidade e o concreto, o vertical e o cianeto. 

Nem os pássaros compõem melodias. Orquestras.

E mesmo entre a pele arrepiada pelo frio e a morte que se apresenta nas folhas caídas no chão, tem um Ipê que pinta em cores a tela cinza.
1 Comment

Cumplicidade

É no escuro que o amor se faz e o gemido se deita ao lado na cama.
O plástico vira pele e penetra lentamente a alma.
O carinho que vem tênue no braço. Artificial tornando-se real.
O prazer em lugares inesperados, impensados, impossíveis…
São expressões fixas que se transformam conforme o olhar.
São corpos estáticos que se tornam fluídos enquanto se enlaçam.
O Desejo além dos olhos são suspiros mudos que se findam nas coxas.
É a cumplicidade de dois corpos que se habitam.

*Este texto foi entregue a quem visitou a exposição ‘Cumplicidade’ nos dias 3 e 4 de agosto de 2012
Leave a Comment

Peito

Aaron Kawai (sekushy)
Quero encostar minha cabeça em seu peito e brincar de desenhar com as nuvens do céu.

Nós dois nus sobre o lençol branco cheio de linhas enquanto a luz do abajur te contorna as coxas. Sinto minha cabeça subir a cada inspiração.

Sua mão a fazer cachos nos meus cabelos escuros. Ninhos.

Você levanta e abre a geladeira, recebendo o vento frio e que arrepia o peito. A gravidade te faz tão bem.

Ainda nu você enche as taças de vinho. Senta-se no banco da janela e me pinta com um olhar de poeta.

… Eu confesso que umedeço.
Leave a Comment

Buz

A View from My Window – Jan Saudek

Silêncio.
Ele estava parado a admirar o céu pela janela. Seu gato lhe roçava as pernas, enquanto respirava fundo aquele ar frio de um dia ensolarado.
A luz do sol entrava de leve, batia em seu rosto fazendo seu olho direito brilhar. Os raios de luz escorregavam pelo seu peito com pelos ralos. As suas costas arrepiadas pelo o vento salientavam a curva de seus quadris que findava numa bermuda jeans rasgada.
Seus pés fixos no chão lhe davam um caráter sólido. Estado contemplativo.
Não pensava em ‘o ques’ ou ‘porques’, apenas olhava ao longe um horizonte azul, seus lábios rosados, mesmo imóveis, pareciam gritar poemas e palavras de acalanto. Seu mamilo saltava como que pedindo o contato da língua.
Barulho.
… Sempre olhamos quando uma porta se abre.
3 Comments