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Categoria: São Paulo

Gritei, cantei e pulei; mas eu fiz a minha Revolução

Foto tirada por Marcelo Sá, na Marcha Contra Homofobia que rolou nesse sabádo (19/02) na Avenida Paulista.
Fizemos o caminho oposto da tradicional Parada do Orgulho Gay. Saímos da Praça do Ciclista, na consolação, rumo ao número 777 da Paulista, próximo a brigadeiro. Esse endereço foi escolhido devido aos dois ataques que se tornaram notícias nas mídias nacionais.

Protestamos de um jeito leve, bem humorado e acima de tudo politizado. Não éramos gays, lésbicas, travestis, transsex, bissexuais, héteros, etc. Eramos cidadãos em busca dos nossos direitos.

O que fica? O sentimento de que enquanto não mudar, enquanto não parar, enquanto não chegar ao fim; esse preconceito, essa homofobia. Nós vamos pra rua, por que como diz o grito da manifestação “Você ai parado também é violentado!”

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São Paulo

Foto por Leco Vilela

 
Existe alguma coisa em São Paulo que me expõe de uma forma suave, mostra minha história e cada história de sua longa vida.

Existe algo nesse ar, nesse vento. Talvez seja o dióxido de carbono misturado com o ozônio do fim da tarde, ou talvez seja só a minha pele que o vento toca diferente.

Imagina que cada janela acesa durante a noite tem sua história, seu conto, sua crônica. Eu imagino, e nesse exato momento uma mulher está fumando um cigarro, repousada na janela de um apartamento no centro.

São Paulo é terra de santo, mas com seu inferno particular, talvez seja essa a dicotomia que me agrade tanto, ou talvez seja só o vento que a minha pele insiste em sentir diferente.

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A mulher de braços fortes

A mulher com braços largos põe-se em pé lá pelas 4 da matina. Seu corpo ainda sentido da labuta do dia que se pos, acorda. Levanta-se e alimenta sua cria.
Os mesmos braços fortes lá pelas 6 do mesmo dia estão agarrados nas grades do metrô. Nesse ato cotidiano é que ela encontra seu lugar, no meio de corpos que lotam seu entorno, ela vive o seu espaço. Na ida e na volta são seus braços grossos que impõe seu espaço.
Trabalha, cria, sustenta, faz… Tão acostumada a ser guerreira, tão acostumada a despir-se de seu seio. Fez amazonas de si mesma. E há de morrer assim, com seus braços encorpados a lutar por si.
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O Elevador

Ela, presa em cinco metros quadrados. O escuro e seis vultos de ombros largos. Então, como quem esperava pela dor, ela recebe o amor. Um beijo que lhe rodou a cabeça e lhe deixou as pastas caírem no chão.

Seu coração acelerado a fazia tremer levemente, mas no escuro ninguém se denunciava, nem mesmo seu tremor. Uma vida seca era exposta a cada segundo que ela permanecia presa ali. Paredes de metais não são naturais, pensava. Quanto tempo pudera viver assim? Quem secretamente lhe desejava? E por que de repente se sentia diante do liquido viscoso de uma barata como em seu livro favorito?

A dúvida, de repente só isso existia. Cinco metros quadrados se transformaram em centímetros quadrados. Sufocava. E como se seu peito abrisse e se enchesse de ar a luz se acendeu. A porta se abriu. Seis homens saíram. E ela, pois ao chão recolhendo os papeis caídos como Terezinha a espera de quem lhe de a mão.

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Momentos

A primeira vez que li “Paixão Segundo G.H.” de Clarice Lispector, foi a mais ou menos 3 anos atrás.


Era 26 de Dezembro de 2007, eu estava sentado em um café na rodoviária do Tiête. Eu esperava o ônibus que me levaria a Belo horizonte.

Lembro de tomar café enquanto abria pela primeira vez aquele livro, um presente do meu diretor e amigo, tamanha foi minha surpresa ao ouvir as teclas de um piano a tocar, e assim constatar que o som era real e não uma tradução da minha sinestesia. Uma mulher havia se sentado ao piano que só naquela hora pude perceber, fazia parte do cenário local.

Voltei a ler alimentado por aquela melodia e então; G.H. entra no quarto de sua antiga empregada, disposta a limpá-lo, a traduzi-lo, mas para sua surpresa o quarto estava lá, imaculado em sua neutralidade. Com essa cena em minha mente outra coisa me surpreendia. Nas migalhas da minha torta de palmito estava um passarinho a se alimentar… A poucos centímetros de mim. Convivia com minha presença com tamanha indiferença. Alimentava-se.

Excitado pelo momento quase mágico ao som do piano a ao ciscar do pássaro à minha frente, voltei a ler. E lendo eu tinha à esperança de que algo mais acontecesse. Algo que desafiasse a vil lógica dessa terra com nome de santo.

A voz no alto falante me despertava. A realidade era anunciada, o ônibus chegará. Oito horas depois e com o livro terminado eu desembarcava no verão abafado de Belo Horizonte.

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