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Autor: Leco Vilela

Boceta

Sob o silêncio minha cabeça se afunda entre suas coxas enquanto minha saliva hidrata cada pétala da sua boceta. Você arqueia as costas e geme baixo mordendo os lábios. Com certeza seus olhos fechados, brilham.

Estamos jogados na cama desarrumada e minha língua sobe até seus seios fazendo círculos concêntricos envolta do seu mamilo arrebitado. Peito que cabe inteiro na boca. Dedo-te enquanto subo para seu pescoço que pulsa a cada respiração.  O ar entra fácil, assim como meus dedos.

Eu aqui puxando seu cabelo pra trás. Enquanto você me olha com esses olhos entreabertos, eu estou tocando bossa nova entre seus pentelhos. Toco meu lábio na sua orelha e sussurro, vadia, você sorri entre gemidos.

Lambo meu dedo úmido, cuspo no meu pau e te como entre nossas roupas amassadas, papeis espalhados e ideias rascunhadas.

Gosto de ouvir o seu suspiro, de ver o seu sorriso e de sentir você vibrar quando eu estou dentro de você.

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Vênus em Peixes


Lembro que quando era pequeno tinha mania de jogar a cabeça pro lado ou ainda de dar bananeira quando eu procurava alguma coisa e não a encontrava, eu olhava em lugares ilógicos como, por exemplo, encontrar o controle remoto dentro geladeira.

É engraçado relembrar isso, pois é um hábito que se manteve de forma discreta. Há pouco tempo percebi que mantinha esse jeito de ser, pois acharam engraçado eu jogar minha cabeça pro lado e olhar pra frente como se estivesse dando um zoom nos olhos. Era como se eu virasse um pinball de lado para a bolinha se desprender.

Em todo o caso esses pequenos hábitos loucos e já imperceptíveis para mim me fizeram entender que não existe uma busca por algo externo a você mesmo. É engraçado contradizer a ideia normativa de se ter um relacionamento, mas é real.

Não quero alguém que me complete, pois a metade de mim sou eu inteiro, sou e existo independente de outro ser humano, o irônico é que justamente essa percepção, que torna interessante estar com outro ser humano. Não se procura uma metade, vive-se com um inteiro.
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Era uma casa muito engraçada


 
São fantasmas que vagam por entre minhas paredes, eu renovada, mas antiga. Muito já se passou em mim, mas hoje vivem os espectros que são visíveis pelas frestas das portas.

Imprudências, assédios, tristezas e angústias. Alegrias também aconteceram aqui, mas depois de um tempo os tijolos pesam tanto que eu sedimento. São demônios incrustados entre as camadas de tinta que me renovaram.

Existem vazamentos e lutas homéricas contra as pragas. Sou um edifício aberto, com uma luz agradável e uma brisa leve, mas os anos me consomem e embora permaneça estética minha origem se esconde entre constantes reformas.

Ouço fantasmas, seus passos e seus gemidos. Seres que transam estupidamente entre minhas paredes e ignoram minha sólida existência. Beijos trocados com outro por aqueles que usavam meus espelhos para aprender o toque dos lábios.

Às vezes avarandar, outras vezes demolir.
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Coisas

Foto André Medeiros Martins
Existem coisas que me dão uma noção vaga de sentido na vida.

O sabor que toma a boca, o suco da fruta que escorre pelo queixo, o cheiro do seu corpo nos meus dedos, o sol que entra pela janela de manhã, as estrelas pintadas no céu, a chuva que avisa antes de cair e a brisa que me toca quando menos espero.

São coisas singelas, eu sei, mas são coisas, minhas coisas, coisas que me fazem bem.

Como acordar no meio da noite e perceber que, mesmo separados, você encontrou um jeito de quedar-se entre meus braços sem me despertar.

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Presente


Sento agora no alto de um edifício de três andares. Atrás de mim a lua se faz crescente.  Encanta-me o anoitecer dessa cidade.  O sol parece gostar muito daqui durante o verão, ele só cai na margem do mundo lá pelas oito e meia da noite. Noite que aqui ainda é dia, engraçado, não? 
A cidade aqui é quieta, ainda mais se comparada à selva de pedra. Existe barulho, claro, mas a ausência daquele som distante, som de gente correndo, essa ausência faz a cabeça ficar mais leve.
Venta agora e o escuro vai tomando conta. Tem um cheiro de páprica doce bem forte, deve vir do bar que fica no primeiro andar desse edifício. Aqui do alto é possível ver as tevês ligadas no jornal nacional. Uma senhora se empenha em olhar pela janela e no outro prédio um homem permanece parado em frente a uma planta. O que ele faz?
Escureceu mais e parece que o vento gostou disso, pois ele passa mais forte por entre meus braços. Risadas de bar podem ser ouvidas. Tem uma árvore que parece dançar com o vento e de repente uma andorinha passa por mim num rasante. Espanto-me e sorrio. A minha direita tem um casal na varanda, não consigo ver mais do que as silhuetas, mas acredito ser um casal mais velho. Conversam. 
O homem ainda está encarando a planta. E no meio de tudo isso, entre outro rasante e as estrelas que brotam do céu, eu estou feliz.
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