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Categoria: Conto

O Banho

Ele entrou pela porta do banheiro com ar cansado, suado do stress do dia. Largou as roupas no chão e se olhou no espelho, olheiras escuras lhe davam um ar de derrota, seu pau balançava pesado por entre as pernas, nem ele se animava.

Ligou o chuveiro e o deixou esquentar enquanto mijava um jato forte de urina amarelada. Dias pesados, pensou. Deu descarga e reparou no calor do chuveiro aumentar, vapor branco que se espalha no ar.

Entrando no box, seu corpo acostumava-se com a temperatura da água, a deixava escorrer entre os cachos e ofegava com a satisfação proporcionada. Sua pele sorria a cada gota que a percorria, uma espécie de orgasmo tátil.

Ele gostava de como a espuma se formava entre seus pelos, achava graça nas pequenas bolhas de sabão que o cobriam. Espuma grossa e um sorriso. Cansaço indo.

Lavava o pau como quem levava as mãos, com um caráter habitual e simples, puxava a pele e ensaboava tudo, gostava de ver a pequena cachoeira que se formava no final dos seus pentelhos.

Enxaguava o corpo a procura de outro orgasmo ao deixar a água correr sem pressa.

Ao se enxugar a aspereza da toalha lhe causa uma leve excitação, mas continuava o ritual de limpeza como se aquela circulação entre suas pernas fosse algo corriqueiro. Enrolou a toalha em sua cintura e passando a mão no espelho embaçado viu seu reflexo.

Seu corpo de cor de canela estava arrepiado, sorria enquanto escovava os dentes. Terminará o momento, voltou a pensar na vida.

* Imagem por Alyssa Monks.

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Era uma casa muito engraçada


 
São fantasmas que vagam por entre minhas paredes, eu renovada, mas antiga. Muito já se passou em mim, mas hoje vivem os espectros que são visíveis pelas frestas das portas.

Imprudências, assédios, tristezas e angústias. Alegrias também aconteceram aqui, mas depois de um tempo os tijolos pesam tanto que eu sedimento. São demônios incrustados entre as camadas de tinta que me renovaram.

Existem vazamentos e lutas homéricas contra as pragas. Sou um edifício aberto, com uma luz agradável e uma brisa leve, mas os anos me consomem e embora permaneça estética minha origem se esconde entre constantes reformas.

Ouço fantasmas, seus passos e seus gemidos. Seres que transam estupidamente entre minhas paredes e ignoram minha sólida existência. Beijos trocados com outro por aqueles que usavam meus espelhos para aprender o toque dos lábios.

Às vezes avarandar, outras vezes demolir.
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Eles choram

Foto – Derek Fernandes

Ele corria pelo asfalto áspero da cidade, seu tênis puído pelo tempo já sabia o caminho. Correu como uma criança que foge do monstro que vive embaixo da cama. Sua boca soltava fumaça de ar frio.

Amassado no bolso de sua calça uma foto em preto e branco, um corpo suave delineado pela luz de uma grande janela. Nunca mais tocá-la. Ainda existe o desejo de salgar a boca entre suas pernas e no entanto, ele corria.

Talvez tenha corrido durante toda a noite, talvez ainda continuasse a correr. A camiseta de banda suada e em seu olho garoa.
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Cumplicidade

É no escuro que o amor se faz e o gemido se deita ao lado na cama.
O plástico vira pele e penetra lentamente a alma.
O carinho que vem tênue no braço. Artificial tornando-se real.
O prazer em lugares inesperados, impensados, impossíveis…
São expressões fixas que se transformam conforme o olhar.
São corpos estáticos que se tornam fluídos enquanto se enlaçam.
O Desejo além dos olhos são suspiros mudos que se findam nas coxas.
É a cumplicidade de dois corpos que se habitam.

*Este texto foi entregue a quem visitou a exposição ‘Cumplicidade’ nos dias 3 e 4 de agosto de 2012
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Coxas

Prefiro te ver com o sol entrando pela janela do quarto, do que te ver como um sonho efêmero. Prefiro seu cheiro no travesseiro do lado, do que achar você em outros braços. Prefiro ser o beija-flor, que volta todo o dia pra te beijar os lábios.

A verdade é que entre tantas cartas de amor desesperadas, me vejo a te querer de forma simples e te querendo nos mínimos detalhes te libertar pra mim. Quero te dizer coisas leves e olhar em teus olhos doces. Quero o peso da sua mão na coxa.
Algumas coisas só cabem ao amor literário, que encorpado e forte como um vinho, quente e ardente como a vela na mesa de centro, te vira os olhos enquanto a noite cai.
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