Categoria: Vida
Vitrola
Eu por Regina Vilela |
Cresci entre sons opostos e paisagens diversas, enquanto numa vitrola Joplin cantava as injustiças de uma vida, na outra o lamento do fado de minha avó tocava. Nem dois passos eu dava e lá estava os acordes de uma guitarra a se misturar com o som da cuíca.
Lembro de olhar entre as grades brancas do portão enferrujado a bateria da Nenê que descia aos domingos. Recordo ainda do cheiro de peru, da letria na mesa de natal, da calda que escorria do manjar e do bordo do vinho a contornar a taça em movimento.
Recordo da água com açúcar, do beija-flor, das violetas, da hortelã que nascia ao pé do limoeiro e do barulho da máquina fotográfica mudando o frame.
Foi exatamente toda essa oposição, toda essa lacuna, que me fez assim, meio passado / meio futuro.
Pedra, Papel e Tesoura
Eu por Regina Vilela |
Domingo
De repente 23!
Recado que minha mãe deixou hoje na parede da sala. |
Parece engraçado dizer isso, afinal eu era um recém nascido, mas eu lembro da música de tocava enquanto eu nascia. Não me lembro dessa maneira ocidental de reviver a situação mentalmente. Eu lembro dela pelos meus poros e meus tímpanos, lembro dela com cada parte do meu corpo. E eu sei que lembro mesmo de forma tão abstrata, pois meu corpo vaza e transborda em emoção toda a vez que eu escuto a voz de John Lennon pedindo por um mundo melhor.
Para quem me conhece sabe ou consegue perceber que de fato nasci ao som dessa música, dessa canção que não só marca a minha personalidade, como marca minha trajetória, vida de marcas. E eu sei que vocês podem dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único. Eu tenho a esperança de que um dia vocês se juntarão a nós, os sonhadores. E o mundo, o mundo será como um só.
Por que imaginar um mundo melhor não basta mais, é necessário fazer seu mundo melhor a cada dia e perceber que ao menos na imaginação não existe posse.
Hoje comemoro o meu ano novo pessoal, a minha virada, o meu ano um. Hoje renasço e me permito ser e imaginar tudo aquilo que quero e posso.
Namastê.